Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar caiu acentuadamente contra o real nesta quinta-feira, interrompendo rali recente diante de recuperação no apetite por risco no mundo, embora ameaças de recessão nas principais economias e tensões fiscais locais tenham seguido no radar.
A moeda norte-americana negociada no mercado à vista (BRBY) recuou 1,45%, a 5,3443 reais, maior desvalorização diária desde 15 de junho (-2,07%). Na B3 (BVMF:B3SA3), às 17:02 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento (DOLc1) caía 1,54%, a 5,3790 reais.
"Depois de um começo de mês bem negativo, os mercados locais finalmente respiram", disse em publicação no Twitter Sérgio Machado, sócio e gestor da Trópico Investimentos. Como responsáveis por esse movimento, ele citou melhora no desempenho dos mercados internacionais de ações, câmbio e commodities, bem como "alguma realização de lucros".
Além do real, várias divisas de países emergentes ou ligadas às commodities, como pesos mexicano
As ações globais também se beneficiaram do maior apetite por risco --que alguns participantes atribuíram a novas sinalizações de que as autoridades do Federal Reserve estão atentas aos riscos que seu ciclo de aperto monetário pode representar ao crescimento econômico. Os principais índices de Wall Street subiram pelo quarto pregão seguido, em meio ainda a expectativas pela divulgação, na sexta, de um importante relatório de emprego dos EUA. (NPT)
A queda desta sessão foi apenas a quinta do dólar contra o real em 23 pregões. A moeda --que fechou a quarta-feira em 5,4231 reais, pico desde janeiro-- tem se beneficiado de um movimento globalmente coordenado de fuga para ativos considerados seguros, alimentado por temores de que um aperto monetário agressivo por parte dos bancos centrais de países desenvolvidos minará o crescimento mundial.
O dólar ainda acumula baixa de 4,11% frente à moeda brasileira em 2022, mas está quase 16% acima da mínima para encerramento do ano, de 4,6075 reais, atingida no início de abril. Apenas em junho, a moeda disparou 10,03%, seu melhor mês desde março de 2020. Em julho, os ganhos somam 2,16%.
Depois de tamanho rali, é natural que haja eventual ajuste para baixo como o desta quinta-feira, disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital. "Mas ele deveria ser até maior se o front doméstico não estivesse tão ruim. Essa perspectiva de que o governo abandonou de vez a agenda liberal para gastar o dinheiro público a três meses da eleição está atrapalhando muito a percepção fiscal do investidor estrangeiro."
O texto-base de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que estabelece um estado de emergência para justificar a criação de novos benefícios foi aprovado nesta quinta-feira em comissão especial da Câmara dos Deputados. A proposta foi apelidada de "PEC Kamikaze" por críticos, que a veem como estratégia para burlar o teto de gastos e a lei eleitoral, bem como manobra para impulsionar as chances de reeleição do presidente Jair Bolsonaro. [nS0N2UX02A]
Em meio ao pessimismo sobre o que essas ações podem representar para a saúde das contas públicas, uma medida do risco do Brasil rondava máximas desde maio de 2020, acima de 300 pontos-base
No médio prazo, Bergallo ainda vê o dólar retornando para perto da casa de 5,00 reais --o que configuraria queda de mais de 6% ante os níveis atuais--, principalmente passada a eleição presidencial de outubro, que tradicionalmente eleva a volatilidade nos mercados brasileiros.
(Edição de José de Castro)