Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar à vista fechou a quinta-feira em baixa ante o real, influenciado pelo recuo da moeda norte-americana no exterior e por declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em defesa do ajuste fiscal.
O dólar à vista fechou o dia em baixa de 0,53%, cotado a 5,6635 reais -- a menor cotação do dia. Em outubro, porém, a divisa acumula elevação de 3,93%.
Às 17h11, na B3 (BVMF:B3SA3) o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,35%, a 5,6700 reais na venda.
No início do dia o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) subiu 0,54% em outubro, ante alta de 0,13% em setembro. A expectativa de economistas ouvidos pela Reuters era de elevação de 0,50%.
Em 12 meses até outubro, o indicador, considerado uma espécie de prévia para a inflação oficial, subiu 4,47%, acima dos 4,12% do mês anterior e a projeção de 4,43%.
O IPCA-15 acima do esperado, somado às preocupações do mercado em relação ao equilíbrio fiscal do governo, sustentou o avanço do dólar pela manhã, avaliou o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik.
“O IPCA-15 mais forte induz preocupações no mercado, ainda mais com um fiscal ruim e a inflação em alta”, disse Rugik. “Isso fez o dólar no Brasil trabalhar em descompasso com o que se via lá fora, onde a moeda caía.”
Às 10h36, o dólar à vista atingiu a cotação máxima de 5,7215 reais (+0,49%).
Durante a tarde, porém, a divisa norte-americana perdeu força ante o real, com o movimento se intensificando após as 14h, na esteira de declarações de autoridades brasileiras nos Estados Unidos.
Em entrevista coletiva às margens das reuniões da trilha de finanças do G20, em Washington, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defenderam a adoção de medidas que reforcem uma trajetória sustentável das contas públicas.
Segundo Campos Neto, o anúncio de medidas fiscais a ser feito pelo governo pode minimizar reações observadas no mercado relacionadas à preocupação com as contas públicas.
"A gente entende que vamos ter alguns anúncios no curto prazo que vão endereçar em parte essa reação do mercado em relação ao tema fiscal", disse.
Já Haddad disse não ver necessidade de reformar o arcabouço fiscal, mas sim de mostrar que ele é crível.
“É o fortalecimento de uma decisão que já foi tomada (ao aprovarmos o arcabouço)”, disse o ministro. “Não se trata de reformular, se trata de reforçar.”
Em outro evento, também em Washington, o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do BC, Renato Dias Brito Gomes, afirmou que o principal fator que tem impulsionado os prêmios de risco no Brasil é a percepção dos investidores sobre a questão fiscal. Ao mesmo tempo, ele reforçou o compromisso do BC com o centro da meta de inflação, de 3%.
As declarações das autoridades abriram espaço para uma forte baixa das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) e para o dólar se firmar em queda, mais em sintonia com recuo que era visto no exterior ante as demais divisas.
Às 17h29, o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,40%, a 104,020.
A divisa dos EUA encerrou a sessão abaixo dos 5,70 reais no Brasil, mas os agentes seguiam cautelosos. Além da expectativa pelo anúncio de medidas fiscais pelo governo nas próximas semanas, o mercado observa com atenção os desdobramentos da eleição presidencial norte-americana.
Analistas ouvidos pela Reuters afirmaram que uma eventual vitória do republicano em 5 de novembro tende a elevar ainda mais a pressão de alta para o dólar no Brasil.
No fim da manhã o BC vendeu todos os 14.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão para rolagem do vencimento de 2 de dezembro de 2024.