Dólar dispara acima de R$5,30 com fuga global para segurança e temor fiscal por PEC dos auxílios

Publicado 01.07.2022, 09:10
Atualizado 01.07.2022, 11:20
© Reuters. Notas de dólar
28/04/2010
REUTERS/Jo Yong-Hak
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Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar disparava contra o real nesta sexta-feira, superando com folga a marca de 5,30 reais conforme investidores reagiam à aprovação pelo Senado na véspera de Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece um estado de emergência para ampliar e criar novos auxílios sociais, enquanto temores internacionais de recessão colaboravam para a busca por segurança.

Além de reconhecer o estado de emergência para criar o "voucher caminhoneiro" e de ampliar o Auxílio Brasil e o Auxílio Gás, a PEC aprovada foi complementada para incluir a concessão de um benefício destinado a taxistas e ainda um crédito suplementar a programa alimentar.

A votação da PEC, que ainda deve passar pela Câmara dos Deputados, ocorreu a cerca de 100 dias das eleições gerais de outubro e é apontada por críticos como eleitoreira. A proposta --chamada por alguns participantes do mercado como "PEC das bondades" ou "PEC Kamikaze"-- também é vista como fiscalmente danosa, já que prevê despesas fora do teto de gastos.

"Os rumos da situação fiscal no Brasil, adicionados ao cenário internacional mais desafiador, têm mantido o dólar mais alto, a curva de juros pressionada e a bolsa com dinâmica negativa", escreveu Dan Kawa, diretor de investimentos da TAG.

Às 11:07 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,89%, a 5,3298 reais na venda. No pico do dia, a moeda norte-americana saltou 1,97%, a 5,3340 reais, nível que, se mantido até o fim dos negócios, configuraria a maior cotação para um encerramento desde 28 de janeiro deste ano (5,3915).

Com a performance desta sexta-feira, o dólar caminhava para registrar uma quinta semana consecutiva de ganhos, o que igualaria sequência registrada pela última vez em 8 de outubro de 2021.

Sinal do clima doméstico arisco, uma medida do risco-país estava perto dos maiores patamares desde maio de 2020, enquanto a volatilidade implícita do real para os próximos três meses foi na véspera ao maior nível desde outubro de 2020.

Na B3 (BVMF:B3SA3), às 11:07 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,42%, a 5,3710 reais.

Além de refletir ambiente doméstico turbulento, a alta do dólar acompanhava a forte valorização do índice da moeda dos Estados Unidos contra uma cesta de rivais fortes, que se aproximava dos maiores níveis em duas décadas nesta sexta-feira em meio a receios generalizados de recessão.

Ao mesmo tempo, a maioria das divisas arriscadas ou ligadas às commodities tinha forte baixa, com peso chileno, dólar australiano e florim húngaro dividindo com o real a posição de pior desempenho global no dia.

Com a perspectiva de que o Federal Reserve, banco central dos EUA, siga com posicionamento agressivo no combate à inflação, investidores vendiam ações e buscavam a segurança do dólar e da dívida soberana dos Estados Unidos, cujos rendimentos caíam acentuadamente diante da grande demanda por Treasuries.

"Os próximos meses serão marcados por um Fed que deve subir os juros de forma mais intensa para ancorar as expectativas de inflação, mesmo com efeitos negativos para o crescimento", disse a equipe de macro e estratégia do BTG Pactual (BVMF:BPAC11) em relatório, citando impacto negativo desse cenário sobre moedas emergentes.

"Esse vetor já nos motivava uma menor exposição ao risco e volatilidade nos últimos meses, guiando as estratégias neste início de trimestre."

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A moeda norte-americana fechou a última sessão em 5,2311 reais, saltando 10,03% em junho --melhor mês desde março de 2020 (+15,92%)-- e acumulando avanço de 9,83% no segundo trimestre.

Apesar desse resultado, o dólar ainda está em território negativo no acumulado de 2022, depois de ter fechado o ano passado em 5,5735 reais.

O BTG Pactual disse no relatório que um cenário de apreciação expressiva do real está ficando mais desafiador, com os riscos domésticos amplificando a tendência de aversão a risco vista no mercado global. Mesmo assim, o banco manteve cenário anterior de dólar a 4,80 reais ao fim deste ano.

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