Após uma manhã marcada por certa volatilidade, com troca de sinais em resposta à divulgação do relatório de emprego (payroll) nos EUA e do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro (ambos abaixo do esperado), o dólar se acomodou ao longo da tarde, operando ao redor da estabilidade, com investidores preferindo não assumir novas posições.
Com mínima a R$ 5,4793 e máxima a R$ 5,5321, a moeda americana encerrou a sessão desta sexta-feira (8) cotada a R$ 5,5161 (-0,02%). Praticamente no zero a zero nesta sexta, o dólar fecha a semana em alta de 2,74% e acumula uma valorização de 1,28% em setembro.
Segundo operadores, depois de uma arrancada nos últimos dias, com o dólar voltando a ser negociado acima de R$ 5,50 pela primeira vez desde fins de abril, era esperada uma acomodação da taxa de câmbio. Contribuiu para o pouco apetite dos negócios o feriado prolongado de Nossa Senhora Aparecida, com provável liquidez reduzida na segunda-feira, 11, e paralisação dos negócios na terça-feira, 12.
A janela para essa acomodação foi aberta por surpresa positiva com o IPCA de setembro e o payroll abaixo do esperado nos EUA, que tirou um pouco do fôlego do dólar no exterior, ao dar sustentação à tese de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), embora possa iniciar o tapering em novembro, será bem cuidadoso na retirada dos estímulos monetários.
O payroll mostrou criação de 194 mil vagas de trabalho em setembro, bem abaixo do esperado (500 mil). Em contraponto, a taxa de desemprego caiu para 4,8% (expectativa de 5,1%) e o salário médio subiu 4,58% na comparação anual, ligeiramente acima do previsto (4,60%). Vale destacar que o resultado de agosto foi revisado para cima, de 235 mil para 366 mil.
O sócio e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, afirma que, dada a queda da taxa de desemprego e a alta dos salários nos EUA, o Federal Reserve têm condições de iniciar o tapering em novembro, embora em ritmo moderado. O DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - teve leve recuo nesta sexta, embora se sustente acima dos 94 pontos. Em relação às divisa emergentes, o real e o rand sul-africano foram os destaques, terminando praticamente estáveis, enquanto a lira turca e o peso chileno caíram mais de 1%.
Apesar do respiro nesta sexta, o economista da JF Trust vê a taxa de câmbio ainda pressionada nos próximos dias, em meio ao andamento das pautas fiscais no Congresso, que trazem tentativas de exclusão de gastos da regra do teto, e também pelo cenário monetário internacional. "Nada mudou no fiscal. A PEC dos precatórios foi adiada, há o risco de descumprimento do teto e resistência a votação do projeto do Imposto de Renda, ou seja, teremos mais gastos com o Auxílio Brasil, mas sem financiamento", afirma
Do front interno, contribuiu para a moderação da força do dólar nesta sexta a leitura do IPCA de setembro, com alta de 1,16%, abaixo da mediana esperada pelo mercado (1,25%). No ano, o IPCA já acumula alta de 6,90%. Em 12 meses, bateu em dois dígitos (10,25%). A deterioração das expectativas de inflação e de crescimento econômico são apontadas por analistas como um dos fatores que tiram força da moeda brasileira.
Em evento virtual organizado pelo Itau BBA, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a antecipação da oferta de swaps cambiais extras para atender a demanda dos bancos por desmontagem de overhedge (estimada em US$ 17,4 bilhões) não afetou o mercado, pois já era esperada. Campos Neto disse também que dados da autoridade monetária não mostram que exportadores estariam deixando grande volume de recursos no exterior. "Falam em montantes US$ 40 bilhões a US$ 50 bilhões de receitas de exportação ficando lá fora, mas não vemos isso", afirmou.
Nas mesas de operação, são constantes os comentários de que parte do fôlego curto do real se deve ao fato de o exportador não internalizar recursos, a despeito do aumento da taxa básica de juros Selic (atualmente em 6,25%), que eleva o custo de oportunidade de manutenção de recursos em dólares.
O diretor da Wagner Investimentos, José Faria Junior, comenta que, do ponto de vista gráfico, o dólar encontra certa resistência em sua escalada a novos patamares, embora isso não signifique que não continuará subindo. "Uma volta para a região próxima de R$ 5,40 é possível, mas é pouco provável que caia a R$ 5,30. Para isso acontecer seria preciso uma boa queda do DXY e uma melhora do ambiente interno", diz Junior, ressaltando que ainda há grande indefinição nas votações no Congresso de pautas essenciais para a manutenção do teto de gastos.