Trump diz que só reduzirá tarifas se países concordarem em abrir mercados aos EUA
Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar à vista oscilava pouco ante o real nesta quarta-feira, conforme os investidores reagiam ao anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de um acordo comercial com o Japão, enquanto seguem de olho nas tensões recentes entre o Brasil e Washington.
Às 9h55, o dólar à vista subia 0,13%, a R$5,5742 na venda.
Na B3 (BVMF:B3SA3), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,22%, a R$5,584 na venda.
Os movimentos do real nesta sessão tinham como pano de fundo um apetite por risco cauteloso no exterior, uma vez que os mercados demonstravam otimismo com o anúncio de Trump na véspera de que fechou "o maior ACORDO COMERCIAL da história" com o Japão.
Segundo o presidente norte-americano, o pacto comercial reduz as tarifas sobre as importações de automóveis e poupa Tóquio de novas taxas sobre outros produtos em troca de um pacote de US$550 bilhões em investimentos e empréstimos aos EUA.
O progresso nas negociações entre os parceiros fomentava as expectativas de que os EUA possam fechar mais acordos antes do prazo de 1º de agosto que Trump estipulou para a imposição de taxas mais altas sobre vários países. O foco agora está em torno de um possível acordo com a União Europeia.
Na cena doméstica, no entanto, os investidores nacionais observavam pouca margem para apostas mais arriscadas, já que as perspectivas para negociações a fim de evitar a ameaça de Trump de tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros permanecia altamente incerta.
A dificuldade em relação ao Brasil é o fato de que Trump vinculou sua ameaça tarifária ao tratamento que o ex-presidente Jair Bolsonaro vem recebendo do Supremo Tribunal Federal (STF), entre outros assuntos, o que complica qualquer contrapartida comercial que o governo brasileiro possa dar.
Na mais recente atualização sobre o tema, a defesa de Bolsonaro encaminhou ao STF manifestação solicitada pelo ministro Alexandre de Moraes, afirmando que o ex-presidente não descumpriu restrições impostas a ele e pedindo que o magistrado esclareça os termos da proibição de utilização de redes sociais.
Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na segunda que o governo avalia implementar instrumentos de apoio a setores da economia impactados pela tarifa de 50% anunciada pelos EUA.
"A ameaça dos EUA de impor tarifas de 50% ao Brasil ilustra como a taxa de câmbio é moldada por uma combinação de fatores, tornando qualquer projeção um exercício desafiador", disseram analistas do banco UBS em relatório.
"Historicamente, a direção do dólar no exterior é o principal motor do real, e o ambiente atual, com dólar mais fraco, preços de commodities resilientes e menor aversão ao risco, tem beneficiado as moedas emergentes", acrescentaram.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,01%, a 97,474.
O mercado nacional também voltava suas atenções para o cenário fiscal, após o governo apontar na terça necessidade de uma contenção de R$10,7 bilhões nos gastos dos ministérios para cumprir regras fiscais, valor menor do que os R$31,3 bilhões apontados em avaliação feita em maio.
(Por Fernando CardosoEdição de Camila Moreira)