Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar passava a cair frente ao real nesta quinta-feira, em meio a negociações voláteis e depois de mais cedo chegar a saltar mais de 2% em resposta a sinalizações duras do Federal Reserve, com a redução de bloqueios em rodovias brasileiras e a descompressão de riscos eleitorais apoiando a moeda local.
Às 13:14 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,26%, a 5,1047 reais na venda. A moeda norte-americana mostrou grande instabilidade durante as primeiras negociações, e oscilou entre 5,2252 (+2,09%) e 5,0860 reais (-0,63%).
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 13:14 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,69%, a 5,1335 reais.
"Acho que nossos ativos foram muito penalizados nesse período pré eleitoral, então o ajuste está ocorrendo, mesmo em meio ao exterior negativo", disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Nos dois pregões que sucederam as eleições, o dólar perdeu 3,47%, tombo que investidores atribuíram ao risco baixo de contestações bem-sucedidas do processo eleitoral e à visão benigna de agentes estrangeiros sobre o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cuja agenda é bem alinhada à governança social e ambiental.
Também fornecia suporte ao real a redução de bloqueios em estradas do país, depois que o presidente Jair Bolsonaro (PL) divulgou vídeo pedindo a seus apoiadores que desobstruam as rodovias. Ainda que em menor escala, protestos de cunho golpista, que pregam o desrespeito ao resultado das eleições e pedem uma intervenção militar, seguiam em algumas partes do país, sendo Mato Grosso e Santa Catarina os Estados mais afetados.
"Esperamos, no curto prazo, a diminuição das incertezas com relação aos protestos e a mitigação de impactos negativos sobre a atividade econômica. A tendência é que os investidores voltem a dar maior ênfase à transição de governo e às especulações sobre quem assumirá o comando da pasta econômica no terceiro mandato de Lula", disse a Levante Investimentos em nota a clientes.
A equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva propôs nesta quinta a aprovação pelo Congresso de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para criar uma excepcionalidade ao teto de gastos e adequar o Orçamento do ano que vem para o próximo governo que assumirá em 1º de janeiro. A definição sobre os valores embutidos na PEC vai ficar para a próxima semana, disse o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), após participar de uma reunião com o relator-geral do Orçamento de 2023, senador Marcelo Castro (MDB-PI), parlamentares e a equipe de transição.
Já o salto do dólar frente ao real visto mais cedo nesta quinta-feira foi atribuído por investidores a um ajuste a movimento internacional visto na véspera, quando os mercados brasileiros ficaram fechados devido ao feriado do Dia de Finados.
Na quarta-feira, a moeda norte-americana disparou globalmente e as ações listadas nas principais bolsas foram derrubadas pela indicação do chair do Fed, Jerome Powell, de que os juros básicos do banco central dos Estados Unidos podem fechar o atual ciclo de aperto monetário em patamar mais alto do que o estimado anteriormente.
O Fed subiu os custos dos empréstimos na quarta-feira em 0,75 ponto percentual, conforme o esperado, e sinalizou que pode desacelerar o ritmo de altas a partir de dezembro, um movimento que, a princípio, seria positivo para ativos considerados arriscados. No entanto, Powell alertou que ainda há incertezas sobre até onde os juros precisam subir e que eles podem acabar ficando acima do que as autoridades estimaram em seu encontro de setembro.
O Citi disse em relatório que a sinalização recente do Fed "está de acordo com uma perspectiva de alta do dólar", embora tenha destacado a América Latina como uma região melhor preparada para o impacto de juros mais altos nos Estados Unidos, já que a maioria de suas moedas locais oferece retornos ("carry", em inglês) atraentes.
Nesta manhã, o índice do dólar contra uma cesta de pares fortes ganhava 0,6%.