Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar recuava mais de 1% contra o real nesta terça-feira, acompanhando melhora no apetite por risco global e reagindo à ata da última reunião de política monetária do Banco Central, em que a autarquia indicou necessidade de manter a taxa básica de juros em nível elevado por período prolongado para levar a inflação a patamar próximo à meta fiscal em 2023.
No documento, publicado antes da abertura dos mercados, o Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou que pretende promover novo aumento igual ou menor que 0,5 ponto percentual na Selic em agosto.
O Banco ABC Brasil (SA:ABCB4) avaliou o tom da ata como "moderadamente mais 'hawkish'", ou agressivo no combate à inflação, e disse que o documento impõe algum viés de alta a sua projeção para o patamar da Selic ao fim do atual processo de elevação da taxa. A instituição prevê os juros chegando a 13,75% em agosto.
Chances implícitas em contratos de DI indicam um ajuste de 0,50 ponto na Selic no próximo encontro do Copom como mais provável que uma alta mais moderada, de 0,25 ponto, com os mercados vendo chances de 52% e 48%, respectivamente, para cada cenário.
A taxa básica de juros está atualmente em 13,25%, depois que um agressivo ciclo de aperto monetário iniciado em março de 2021 tirou a Selic de uma mínima histórica de 2% atingida durante a pandemia.
Custos de empréstimos mais altos tendem a restringir a atividade econômica --impacto que o BC espera ser maior a partir do segundo semestre deste ano, devido à defasagem da transmissão da política monetária--, mas também tornam o mercado de renda fixa brasileiro mais atraente para investidores estrangeiros, o que, no geral, é visto como fator de impulso para o real.
Às 11:35 (de Brasília), o dólar à vista recuava 1,18%, a 5,1264 reais na venda, nas mínimas do dia.
Na B3 (SA:B3SA3), às 11:35 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,31%, a 5,1420 reais.
Parte dessa desvalorização também era atribuída ao enfraquecimento do dólar no exterior, onde seu índice contra uma cesta de pares fortes recuava 0,20% nesta manhã. Rand sul-africano e peso mexicano, divisas emergentes cujo desempenho o real tende a acompanhar, registravam ganhos frente ao dólar no dia.
Investidores citavam um sentimento global mais ameno nesta sessão. As bolsas europeias e os principais índices de Wall Street, por exemplo, operavam em forte alta nesta terça-feira, recuperando-se de um tombo recente, desencadeado por temores de que uma postura mais agressiva do Federal Reserve pudesse prejudicar a atividade econômica dos Estados Unidos e do resto do mundo. [.EUPT] (NPT)
"Ajuda no melhor sentimento do mercado as falas de Joe Biden durante o dia de ontem, em que o presidente norte-americano disse que uma recessão não é inevitável. Ainda assim, o mercado continua apostando em uma maior chance de que isso ocorra na maior economia do mundo", comentou Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.
O Goldman Sachs (NYSE:GS) somou-se a outras grandes instituições financeiras e elevou as chances de a economia norte-americana entrar em recessão ao longo do próximo ano para 30%, cerca de uma semana depois que o Federal Reserve promoveu sua maior alta de juros desde 1994, de 0,75 ponto percentual, para conter o aumento da inflação.
O medo de recessão costuma afetar o apetite de investidores por risco, levando a uma fuga para ativos considerados seguros, como a moeda norte-americana. O dólar também tende a se beneficiar de juros mais altos nos EUA porque isso torna os retornos da dívida local mais atraentes.
Impulsionado pelas notícias envolvendo o banco central norte-americano, o dólar à vista subiu por nove das últimas dez sessões completas de negociação contra o real, e fechou a segunda-feira em 5,1878 reais, maior patamar para encerramento desde 14 de fevereiro deste ano (5,2195).
No ano, a moeda norte-americana ainda acumula queda de quase 8%, mas está mais de 11% acima da mínima para encerramento de 2022, de 4,6075 reais, atingida no início de abril.