Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar à vista recuava nesta sexta-feira, mas estava a caminho de fechar a semana em alta, com os investidores de olho em novas intervenções no câmbio pelo Banco Central, que já vendeu 3 bilhões de dólares à vista em leilão realizado nesta manhã, enquanto digerem o avanço do pacote fiscal no Congresso.
Às 10h04, o dólar à vista caía 0,84%, a 6,0726 reais na venda.
Na B3 (BVMF:B3SA3), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha baixa de 1,63%, a 6,062 reais na venda.
Na quinta-feira, após cinco pregões consecutivos de alta, em que acumulou valorização de 5,2%, o dólar à vista encerrou o dia em baixa de 2,29%, cotado a 6,1243 reais, ainda o segundo maior valor nominal de fechamento da história.
O Banco Central vendeu um total de 3 bilhões de dólares à vista em um novo leilão realizado na manhã desta quinta-feira, no que foi a sétima operação do tipo desde a semana passada e um dia após injetar 8 bilhões de dólares à vista no mercado, informou a autarquia em comunicado.
A autarquia ainda fará dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) nesta manhã, podendo vender até 2 bilhões de dólares em cada uma das operações.
Assim como ocorreu na sessão anterior, o real era beneficiado pela nova intervenção do BC, recuperando parte das fortes perdas recentes diante do dólar.
A moeda norte-americana, no entanto, caminha para um ganho semanal de cerca de 0,7%, após atingir a cotação recorde de 6,2679 reais na quarta-feira.
Com o novo leilão à vista, o BC agora já vendeu 23,77 bilhões de dólares desde a quinta da semana passada, incluindo vendas à vista (16,77 bilhões) e leilões de linha (7 bilhões), em meio à forte desvalorização da moeda brasileira em decorrência dos receios fiscais dos investidores.
O dólar tem obtido fortes ganhos no mercado brasileiro desde o duplo anúncio pelo governo no fim de novembro de um pacote fiscal e de um projeto de reforma do Imposto de Renda.
Mais recentemente, agentes financeiros também vinham temendo a possibilidade de o pacote fiscal não ser aprovado pelo Congresso até o fim do ano. O avanço das medidas do Congresso nos últimos dias, portanto, era outro fator de otimismo para os investidores neste pregão, ainda que vários pontos dos textos tenham sofrido desidratação ao longo da tramitação, o que reduzirá a economia potencial para o governo.
A Câmara dos Deputados aprovou na quinta-feira o projeto de lei que limita o aumento real do salário mínimo, além de alterar regras de acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), concluindo a votação de todos os três textos que compõem o pacote fiscal.
O Senado, por sua vez, aprovou, em dois turnos, a proposta de emenda à Constituição (PEC) do pacote, com medidas para diminuir gradativamente o grupo que pode receber o abono do PIS/Pasep e limitações aos supersalários.
Mais cedo na quinta-feira, o Senado havia aprovado o projeto que impõe travas para o crescimento de despesas com pessoal e incentivos tributários em caso de déficit primário. Agora resta a votação do projeto que limita o aumento real do salário mínimo.
"A moeda brasileira deve encontrar algum alivio com a aprovação dos textos no Senado e com a forte participação do Banco Central. O tema (fiscal) pode esfriar até fevereiro e a ausência de notícias pode ser positiva para o câmbio", disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
No cenário externo, investidores aguardam dados do índice PCE -- o indicador de inflação preferido do Federal Reserve --, às 10h30 (horário de Brasília), em busca de sinais sobre a trajetória da taxa de juros dos Estados Unidos no próximo ano.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,25%, a 108,160.