SÃO PAULO (Reuters) - O dólar avançava frente ao real nesta sexta-feira, interrompendo sequência de três quedas consecutivas, com certa acomodação após apostas de redução no ritmo da alta de juros nos Estados Unidos impulsionarem forte recuo na véspera, e à medida que investidores avaliam novas medidas econômicas do governo brasileiro.
Às 10:25 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,52%, a 5,1270 reais na venda.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 10:25 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,23%, a 5,1425 reais.
Na semana, o dólar spot caminhava para queda acumulada ao redor de 2%.
"Mercado hoje está dando uma acomodada desse rali da semana, que foi reforçado por CPI (dado de inflação dos EUA)", disse à Reuters Cleber Alessie, gerente da mesa de câmbio da Commcor.
Uma leitura de preços ao consumidor dos EUA pouco abaixo do esperado pelo mercado na quinta-feira consolidou entre os agentes financeiros a aposta de alta de 0,25 ponto percentual nos juros pelo Federal Reserve (Fed) em sua próxima reunião, daqui a pouco mais de duas semanas. A instituição elevou as taxas em 0,5 ponto em dezembro.
Uma redução no ritmo de aperto monetário nos EUA colocaria pressão para baixo sobre o dólar, que tende a se beneficiar de custos de empréstimos mais altos.
No exterior, a moeda norte-americana avançava cerca de 0,30% contra uma cesta de moedas fortes. Pares emergentes do real também registravam perdas na sessão.
Endossava a queda do real uma contração econômica acima do esperado em novembro no Brasil, conforme divulgou o Banco Central mais cedo. O indicador IBC-Br, sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), cedeu 0,55% ante o mês anterior, disse a autoridade monetária, contra expectativa de declínio de 0,20% em pesquisa da Reuters.
Segundo Alessie, ainda que referente a dois meses atrás, o dado traz "uma leitura teórica de menos juros" localmente, uma vez que atividade econômica mais fraca demandaria maior estímulo monetário, o que poderia tirar a atratividade do real.
Os investidores também digeriam o pacote de medidas econômicas anunciadas pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na tarde de quinta-feira.
O plano, que inclui reduções de débitos tributários no Carf (Conselho de Administração de Recursos Fiscais) e reoneração de combustíveis, pode levar a ajuste de até 242,7 bilhões de reais na contas em 2023. Haddad projetou déficit de 0,5% a 1% do PIB para o resultado primário do governo central, em cálculo que já considera a chance de algumas pautas não andarem.
"O governo parece interessado em limitar o aumento projetado do déficit orçamentário em 2023", escreveu a equipe do Goldman Sachs (NYSE:GS) liderada por Alberto Ramos. "Isso é positivo, mas as autoridades continuam a mostrar alguma relutância em adotar cortes permanentes significativos nos gastos correntes e reconhecer abertamente a necessidade de alcançar um superávit fiscal primário de cerca de 2% do PIB para estabilizar a dinâmica da dívida pública", acrescentaram.
Na véspera, o dólar caiu 1,56%, a 5,1003 reais na venda, cotação de fechamento mais baixa desde 4 de novembro (5,0524).
(Por André Romani)