Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou perto da estabilidade frente ao real nesta quinta-feira, contrariando a firme valorização da moeda norte-americana no exterior, com a vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continuando a levantar a perspectiva de ingresso de investimentos estrangeiros no Brasil, enquanto a redução de bloqueios nas rodovias nacionais foi motivo de alívio para os mercados.
A moeda norte-americana à vista teve variação positiva de 0,07%, a 5,1219 reais. O dólar se mostrou volátil ao longo das negociações, e oscilou entre 5,2252 (+2,09%) e 5,0860 reais (-0,63%).
Nos três pregões desde o resultado das eleições, o dólar acumula queda de 3,40% frente ao real.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 17:07 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,30%, a 5,1535 reais.
O descolamento do mercado de câmbio doméstico em relação ao exterior, onde a moeda norte-americana tinha alta forte e generalizada, foi atribuído por Anilson Moretti, chefe de câmbio da HCI Invest e planejador financeiro pela Planejar, a uma extensão de movimento de ingresso de recursos estrangeiros no Brasil após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A agenda do petista é vista como muito mais alinhada à governança ambiental, social e corporativa (ESG, na sigla em inglês) do que a do atual presidente Jair Bolsonaro (PL). Moretti lembrou que a pauta ESG está em alta no momento e é determinante para decisões de investimento de várias empresas estrangeiras.
A Nordea Asset Management, por exemplo, uma das 20 maiores gestoras de patrimônio do mundo, retirou títulos do Brasil de sua lista interna de restrições de investimento após promessas de Lula de proteger a floresta amazônica.
Sob cenário de manutenção de ingresso de recursos estrangeiros, Moretti enxerga a possibilidade de o dólar voltar a ser negociado abaixo dos 5 reais no curto prazo, movimento que seria estimulado por uma transição tranquila entre governos.
Nesse sentido, disse o especialista, colaborou para o clima benigno nos mercados domésticos nesta quinta-feira a redução de bloqueios em estradas do país, depois que Bolsonaro divulgou na quarta-feira vídeo pedindo a seus apoiadores que desobstruam as rodovias. Há dias protestos de cunho golpista em reação ao resultado das eleições vêm atrapalhando o fluxo rodoviário, levantando temores de impacto na economia.
Já Rodrigo Natali, estrategista-chefe da casa de análise Inv, disse que a resiliência do real nesta sessão refletiu, em parte, especulações sobre qual será o chefe da pasta econômica do próximo governo, com o mercado se atendo a esperanças de que Lula indicará um nome moderado e bem visto pelos mercados, como o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
No entanto, Lula tem se recusado a sinalizar quem serão as cabeças de seus ministérios, e fontes próximas ao petista chegaram a dizer ver poucas chances de Meirelles ser nomeado para a Fazenda.
"A gente ainda continua por um tempo mais focado nas notícias que vão mostrar quem são as pessoas que vão compor o governo, e daí você consegue fazer alguns cenários, de como vai ser o fiscal, as políticas econômicas", disse Natali. "Caso (Meirelles) seja confirmado, o dólar vai cair mais, o mercado gosta dele para caramba; caso não seja ele, o dólar pode subir."
A equipe de transição do presidente eleito propôs nesta quinta a aprovação pelo Congresso de uma PEC para criar uma excepcionalidade ao teto de gastos e adequar o Orçamento do ano que vem para o próximo governo que assumirá em 1º de janeiro. O mercado já esperava que o próximo governo buscasse gastar além do permitido pelas regras fiscais vigentes. A definição sobre os valores embutidos na PEC vai ficar para a próxima semana, disse o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB).
Enquanto isso, no exterior, o dólar avançava 0,75% contra uma cesta de pares fortes nesta quinta-feira, estendendo movimento da véspera. Foi essa tendência que impulsionou a moeda norte-americana acima de 5,22 reais mais cedo na sessão, embora a alta tenha sido revertida ao longo dos negócios.
Na quarta-feira, quando os mercados brasileiros ficaram fechados devido a feriado, o Fed elevou sua taxa básica em 0,75 ponto percentual, e sinalizou que futuros aumentos podem ser menores. No entanto, o chair da instituição, Jerome Powell, alertou que os juros podem acabar ficando acima do que as autoridades estimaram na reunião de setembro, o que levou a forte movimento de aversão a risco nos mercados globais.
O Citi disse em relatório que a sinalização recente do Fed "está de acordo com uma perspectiva de alta do dólar", embora tenha destacado a América Latina como uma região melhor preparada para o impacto de juros mais altos nos Estados Unidos, já que a maioria de suas moedas locais oferece retornos ("carry", em inglês) atraentes.