Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar caía acentuadamente frente ao real na manhã desta quinta-feira, acompanhando o bom humor externo após sinalização de que o banco central dos Estados Unidos pode reduzir seu ritmo de aperto monetário, enquanto, no Brasil, a rejeição da ação que pede uma verificação extraordinária do segundo turno eleitoral sustentava o sentimento.
Investidores alertavam que a sessão contará com baixa liquidez devido ao feriado do Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos e à estreia do Brasil na Copa do Mundo, às 16h (de Brasília), o que pode provocar movimentos exacerbados na taxa de câmbio.
Às 10:40 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,89%, a 5,3232 reais na venda.
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 10:40 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,78%, a 5,3295 reais.
A ata da última reunião de política monetária do banco central dos Estados Unidos mostrou que uma "maioria substancial" dos formuladores de política monetária concordou que "provavelmente seria apropriado em breve" desacelerar o ritmo das altas das taxas de juros.
"O que chamou atenção, como novidade, foram sinais mais 'dovish' (inclinados a aperto menos agressivo), como o fato de terem afirmado, pela primeira vez, que esperam uma recessão nos EUA como cenário base, bem como vários participantes usando risco de instabilidade financeira como uma das razões para diminuir o ritmo", comentou Nicole Kretzmann, economista-chefe da Upon Global Capital, sobre a ata da véspera.
"Daqui para frente, a sinalização da ata foi de que o Fed será mais cauteloso nas suas decisões de altas de juros e que o órgão terá mais paciência para avaliar o resultado acumulado das altas anteriores na economia."
Uma moderação no ritmo de alta de juros pelo Fed provavelmente abriria espaço para a valorização de moedas consideradas mais arriscadas, dizem especialistas, já que tornaria o diferencial de juros entre os EUA e outros países menos favorável à maior economia do mundo.
No Brasil, colaborava para o sentimento positivo a decisão do presidente do TSE, Alexandre de Moraes, de indeferir a ação apresentada pela coligação do presidente Jair Bolsonaro (PL) que pedia verificação extraordinária do resultado do segundo turno eleitoral, alegando mau funcionamento de urnas eletrônicas.
Mais cedo nesta semana, a tentativa de questionar as urnas havia abalado o sentimento de investidores, que temiam agravamento das tensões políticas domésticas.
Apesar da queda do dólar nesta quinta, adiamentos sucessivos da apresentação do texto final da PEC da Transição --que o governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva busca aprovar para permitir gastos extra-teto a partir do ano que vem-- continuava sendo motivo de preocupação.
"O que se vê a cada tentativa de avanço, a cada sinal emitido, é que o PT está extremamente incomodado com as amarras fiscais e que, se possível, não quer respeitá-las, ainda que possam ocorrer as consequências macroeconômicos amplamente conhecidas", disse em relatório Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
O governo eleito inicialmente propôs na PEC um gasto extra-teto de quase 200 bilhões de reais por tempo indeterminado, mas boa parte dos mercados espera que o texto possa ser enxugado nas negociações com o Congresso.
Aprofundava o desconforto de investidores a incerteza sobre quem será o ministro da Fazenda de Lula, que tem alimentado especulações de que um nome mais à esquerda, como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, poderia ser indicado ao cargo.
"Com os desafios impostos para os próximos anos, a ausência de um técnico gabaritado para o posto, coisa que não falta no Brasil, tem gerado todo estresse do mercado e, por enquanto, não há sinais de que tal postura deva mudar", avaliou Vieira.