Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar estendeu seus ganhos em relação ao real nesta sexta-feira e fechou numa nova máxima desde o início de agosto, em sua maior valorização semanal em dois meses, em meio a receios persistentes sobre um ciclo de alta de juros muito agressivo nos Estados Unidos.
A moeda norte-americana à vista ganhou 0,41%, a 5,2609 reais, renovando sua maior cotação para encerramento desde 3 de agosto (5,2781 reais).
Na B3 (BVMF:B3SA3), às 17:06 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,20%, a 5,2770 reais.
Na máxima do dia, o dólar spot avançou 1,36%, a 5,3111 reais, mas não conseguiu sustentar esses patamares, com realização de lucros e dados mostrando queda nas expectativas de inflação do consumidor norte-americano em setembro.
O entendimento de que a inflação ficaria menos pressionada à frente poderia jogar a favor de aperto menor dos juros pelo Federal Reserve em seu encontro na semana que vem. Isso explica o afastamento do dólar dos picos do dia, mas sem reversão da cautela que abateu o sentimento global recentemente.
Após vários dias marcados por aversão a risco, o dólar à vista subiu 2,23% frente ao real em relação ao fechamento da última sexta-feira, maior valorização semanal desde o ganho de 2,60% acumulado entre os dias 11 e 15 de julho passado.
Por trás desse rali está a expectativa de que o Fed subirá sua taxa de juros em, pelo menos, 0,75 ponto percentual ao fim de seu encontro dos dias 20 e 21 de setembro, com pequenas chances de ajuste ainda maior, de 1 ponto percentual completo, disse à Reuters Thomas Gibertoni, analista da Portofino Multi Family Office.
Ele atribuiu parte dessa perspectiva a dados de inflação norte-americanos mais altos do que o esperado divulgados nesta semana, mas disse que os mercados financeiros internacionais já vêm recalibrando suas apostas para o juro dos EUA desde o fim do mês passado, na esteira de um alerta do chair do Fed, Jerome Powell, sobre a necessidade de manter a política monetária apertada por algum tempo.
Caso Powell adote tom mais agressivo que o visto até agora ao fim do encontro do Fed da semana que vem, o dólar pode ter espaço para subir ainda mais frente ao real, disse Gibertoni, embora esse não seja seu cenário-base.
Custos de empréstimos mais altos nos EUA sugerem --além de redirecionamento de recursos para o mercado de renda fixa do país, que fica mais atraente quando o juro sobe-- redução dos gastos de empresas e famílias, o que tem elevado temores de recessão e afastado investidores de ativos considerados arriscados, como moedas e países emergentes e ações.
Em relação à cena doméstica, Gibertoni destacou surpresas benignas em dados econômicos recentes --estimuladas principalmente pelo setor de serviços-- como um fator positivo para o mercado financeiro brasileiro, embora ofuscadas pelo exterior adverso.
Ele também citou o adiantado aperto monetário do Banco Central do Brasil em relação aos de grandes economias, que começaram a subir os juros apenas neste ano, como uma vantagem.
A próxima reunião de política monetária do BC acontece na semana que vem, nos mesmos dias que o encontro do Fed. Contratos futuros de juros mostram probabilidade implícita de 60% de manutenção da taxa Selic no nível atual de 13,75% ao ano, mas ainda há 40% de chance de haver aumento residual para 14%.
(Edição de José de Castro)