Bruxelas, 3 jun (EFE).- Vivendo a pior recessão desde o fim da
Segunda Guerra Mundial, a Europa realiza a partir de amanhã suas
sétimas eleições ao Parlamento Europeu.
Se a tendência histórica for mantida, menos da metade do
eleitorado deverá comparecer às urnas entre esta quinta-feira e o
próximo domingo.
Desde que foram realizadas as primeiras eleições europeias
diretas, a participação não parou de cair: foi de 61,99% em 1979;
58,98% em 1984; 58,41% em 1989; 56,67% em 1994; 49,51% em 1999; de
45,47% em 2004.
A participação foi especialmente baixa em 2004 nos estados da
Europa central e oriental, que acabavam de ser incorporados à União
Europeia (UE).
Na ocasião, apenas 16,97% dos eleitores da Eslováquia - recorde
de baixa - compareceram às urnas, e na Polônia esse número chegou a
20,87%.
A propaganda institucional do bloco passou a se concentrar em
chamar os eleitores a votar, de forma quase desesperada.
A excepcional crise econômica representa um fator novo, e que
poderia ter como efeito imprevisto a mobilização dos cidadãos, que
exigem de seus Governos e das instituições soluções urgentes ao
desemprego e medidas concretas na economia.
Segundo a última pesquisa divulgada esta semana pelo Parlamento
Europeu, o número de pessoas que têm planejado votar está subindo
conforme o pleito se aproxima: estes já eram 49% no início de maio,
sendo que em janeiro e fevereiro chegavam apenas a 34%.
Outro elemento que pode contribuir para aumentar a participação é
a coincidência de outros processos eleitorais em vários Estados:
Bélgica (regionais), Dinamarca (plebiscito sobre sucessão no trono),
Alemanha (municipais parciais), Hungria (legislativas e municipais
parciais), Irlanda (municipais), Itália (regionais e provinciais),
Letônia (municipais), Luxemburgo (gerais), Malta (municipais) e
Reino Unido (municipais).
Em geral, as diferentes pesquisas preveem generalização de votos
de protesto contrários aos partidos governantes - salvo na Polônia -
e um fortalecimento de opções nacionalistas e mais céticas em países
e regiões "ricos" como Áustria, Reino Unido e Holanda.
Na Polônia, o partido de centro-direita governante, Plataforma
Cívica (PO), apresenta como líder de sua lista o
ex-primeiro-ministro Jerzy Buzek, que teria chance de se transformar
no próximo presidente do Parlamento Europeu.
No plenário de Estrasburgo (França), uma vez computados os
números finais das eleições, poderia ocorrer um encurtamento de
distâncias entre os dois grupos majoritários, o bloco conservador
Partido Popular Europeu-Democratas Europeus (PPE-DE) e o Partido
Socialista Europeu (PSE).
O primeiro detém atualmente 37% do total de deputados, e o
segundo, 28%.
Uma segunda consequência seria a provável criação de um grupo
eurocético reunido em torno dos conservadores britânicos, cujo líder
nacional, David Cameron, já anunciou a saída dos eurodeputados
"tories" do principal grupo da Eurocâmara, o PPE.
Muito mais que em campanhas anteriores, as questões estritamente
européias desapareceram do debate público e a luta partidária está
voltada a polêmicas nacionais dominadas pela má situação econômica.
Na Alemanha, a votação do próximo domingo é considerada um teste
para as eleições federais que ocorrerão em 27 de setembro e que
poderiam propiciar a formação de uma nova coalizão entre
democratas-cristãos (CDU/CSU) e liberais.
No Reino Unido, os conservadores esperam dar um golpe de
misericórdia nos trabalhistas, antecipando uma volta ao poder nas
eleições gerais de 2010.
Apenas na Romênia, onde a coalizão liberal-social-democrata
(PD-L/PSD) constituída em dezembro passado segue tendo forte apoio
popular, na Polônia e na França - dois anos depois da eleição de
Nicolas Sarkozy como presidente - as pesquisas preveem que serão
mínimas ou nulas os prejuízos aos partidos que estão no poder. EFE