Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O real vai superar seus pares no segundo semestre do ano, com a aceleração da vacinação no Brasil colocando o país em patamar de população imunizada similar ao de pares emergentes e permitindo uma reabertura da economia, disse Caesar Maasry, chefe de estratégia de mercados emergentes do grupo de pesquisas do Goldman Sachs (NYSE:GS) (SA:GSGI34).
"O fator mais importante para o real hoje é o potencial de reabertura da economia", disse Maasry.
Ele chamou atenção para demais "drivers" da moeda, como diferenciais de juros e contas públicas, mas pontuou que, para o investidor estrangeiro, a retomada da economia --que passa por vacinação em massa-- é mais determinante no momento para o câmbio, já que prepara o terreno para o país tratar os demais problemas.
Segundo Maasry, o fortalecimento recente do dólar contra várias moedas e o desempenho melhor de divisas dos países do norte da Ásia --onde as vacinações estão aceleradas-- evidenciam o peso da reabertura das economias nos movimentos do câmbio.
O índice do dólar subiu 3,6% no primeiro trimestre, melhor desempenho desde junho de 2018. Ainda assim, a moeda de Taiwan caiu menos (-1,3%). O won sul-coreano perdeu 3,7%, enquanto o real caiu 7,8% e a lira turca recuou 9,8%.
Maasry disse que o Goldman Sachs calcula que neste semestre apenas de 10% a 15% da população elegível será vacinada no Brasil, enquanto no Chile esse índice deverá beirar os 60%. De acordo com o executivo, essa porcentagem será alcançada pelo Brasil no segundo semestre, colocando o país em paridade com outros vizinhos latino-americanos como México, Colômbia e Peru.
"Essa recuperação vai vir e vai pegar o real subvalorizado. Isso vai levar a moeda a superar seus pares emergentes."
O Goldman Sachs estima dólar de 5,00 reais em 12 meses, número que embute valorização de 14,1% da moeda brasileira no período (queda nominal do dólar de 12,4%).
A cotação estava em 5,7058 reais nesta quinta, queda de 1,4% no dia --a mais forte entre as principais moedas emergentes. O real perdeu 7,8% nos três primeiros meses de 2021, terceiro pior desempenho global.
O estrategista relatou que muitos investidores externos estão questionando se as commodities deixaram de ser um "driver" importante para o real, que tem se desvalorizado na contramão da alta das matérias-primas. "Eu respondo que não. O que o mercado precisa ter hoje é confiança na reabertura econômica, e ela vai acontecer no segundo semestre."
Segundo Maasry, o valor "justo" do real --considerando métricas de transações correntes, por exemplo-- está em 4,15 reais no longo prazo. "Mas a atual dinâmica global das moedas, com dólar fortalecido, não vai deixar as moedas emergentes convergirem para seus valores justos."