Por Chris Prentice e Megan Davies
NOVA YORK (Reuters) - O fundador da FTX, Sam Bankman-Fried, foi acusado nesta terça-feira de fraude pela Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) no que os reguladores chamaram de "um castelo de cartas", horas antes de ele comparecer perante um tribunal nas Bahamas.
Desde pelo menos maio de 2019, a FTX arrecadou mais de 1,8 bilhão de dólares de investidores em uma fraude de anos na qual Bankman-Fried ocultou que a empresa estava desviando fundos de clientes para seu fundo de hedge de criptomoedas afiliado Alameda Research, afirmou a SEC.
Bankman-Fried usou recursos de clientes FTX na Alameda para fazer investimentos de risco, "compras luxuosas de imóveis" e doações políticas, disse o órgão de fiscalização dos mercados financeiros dos Estados Unidos.
Acusações separadas serão anunciadas pela Procuradoria dos EUA em Nova York e pela Comissão de Negociação de Futuros de Commodities ainda nesta terça-feira, informou a SEC.
Representantes de Bankman-Fried não responderam imediatamente a pedidos de comentários.
“Sam Bankman-Fried construiu um castelo de cartas com base em fraude, enquanto dizia aos investidores que era um dos edifícios mais seguros em criptomoedas”, disse o presidente da SEC, Gary Gensler.
Bankman-Fried foi preso na noite de segunda-feira nas Bahamas e deveria comparecer perante um tribunal nesta terça-feira, marcando sua primeira aparição pública desde o colapso da FTX. A corretora entrou com pedido de recuperação judicial em novembro depois de tentar levantar dinheiro extra enquanto os clientes corriam para sacar 6 bilhões de dólares da plataforma em apenas 72 horas.
A polícia das Bahamas, onde fica a sede da FTX, disse que o homem de 30 anos foi preso depois das 18h na segunda-feira em seu luxuoso condomínio fechado na capital Nassau.
Damian Williams, procurador dos EUA em Nova York, disse na noite de segunda-feira que a prisão ocorreu a pedido do governo norte-americano, e uma acusação contra Bankman-Fried seria aberta nesta terça-feira. O gabinete do procurador-geral das Bahamas disse esperar que ele seja extraditado para os EUA.
Não ficou imediatamente claro o que acontecerá na audiência ou se Bankman-Fried decidirá recorrer contra a extradição.
A polícia das Bahamas disse em comunicado que ele foi preso devido a "várias transgressões financeiras contra as leis dos EUA, que também são crimes" nas Bahamas.
INVESTIGAÇÕES
As acusações foram feitas poucas horas antes de Bankman-Fried prestar testemunho previamente agendado perante o Congresso dos EUA sobre o colapso da bolsa.
Ele planejava dizer que foi pressionado a nomear John Ray como novo presidente-executivo da FTX pelos advogados que assessoravam sua empresa na época, de acordo com um esboço de seus comentários visto pela Reuters.
Bankman-Fried fundou a FTX em 2019 e a empresa aproveitou o boom das criptomoedas, se transformando em uma das maiores corretoras de tokens digitais do mundo. A Forbes calculou sua fortuna no ano passado em 26,5 bilhões de dólares e ele passou a ser um financiador importante de campanhas políticas, empresas de mídia e outras causas.
O colapso da FTX ocorreu depois que Bankman-Fried secretamente usou 10 bilhões de dólares em dinheiro de clientes para financiar sua própria empresa de corretagem, a Alameda Research, publicou a Reuters, citando duas fontes com conhecimento do assunto. Pelo menos 1 bilhão de dólares em recursos de clientes da FTX desapareceram, disseram as fontes.
Bankman-Fried renunciou ao comando da FTX no mesmo dia do pedido de recuperação judicial da companhia.
Espera-se que Ray diga aos membros do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados do país que a plataforma de criptomoedas tinha “práticas de gerenciamento inaceitáveis”, incluindo a mistura de ativos e falta de controles internos, de acordo com comentários preparados.