Mercado vende dólar com desmonte de "hedge" para bolsa, de olho em fluxo e corte de juro nos EUA

Publicado 03.10.2019, 16:46
Atualizado 03.10.2019, 16:50
Mercado vende dólar com desmonte de "hedge" para bolsa, de olho em fluxo e corte de juro nos EUA

Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar caía forte ante o real pelo segundo pregão consecutivo nesta quinta-feira, e cada vez mais analistas têm atribuído o movimento a um desmonte de posições no câmbio que visavam proteger aplicações em bolsa.

Na véspera, enquanto o Ibovespa recuou quase 3%, o dólar caiu 0,67%, na maior baixa em três semanas. Nesta quinta, a moeda norte-americana perdia 1,3%, abaixo de 4,08 reais na venda, nos menores patamares desde 18 de setembro. O real liderava o desempenho entre as principais moedas globais nesta sessão.

Dados da B3 mostram que, desde o começo de setembro, fundos locais reduziram posições líquidas compradas em dólar em 3,68 bilhões de dólares, para 7,46 bilhões de dólares na quarta-feira, segundo números mais atuais disponibilizados. Os dados consideram posições em contratos de dólar futuro, cupom cambial e swap cambial.

Desde o começo do ano o real tem tido performance mais fraca que a bolsa ou a renda fixa. Segundo analistas, isso vinha ocorrendo porque investidores tomaram dólar para proteger aplicações nos mercados de ações e renda fixa.

De fato, o real acumula depreciação de 6,3% ante o dólar em 2019, enquanto o Ibovespa sobe quase 15% e os títulos prefixados se valorizam 10%.

Mas a continuidade dessa dinâmica cada vez mais é dúvida.

"De ontem para hoje zeramos nossa posição (comprada) em dólar", disse Roberto Campos, gestor sênior de câmbio da Absolute Investimentos, para quem o real parece mais inclinado a recuperar parte das perdas do ano depois da forte depreciação de agosto, a mais intensa desde 2015.

A expectativa de que o fluxo cambial se recupere nos próximos meses também está por trás do desmonte de parte de posições pró-dólar.

Um gestor de fundos em São Paulo citou esperados ingressos de recursos de operações corporativas como um elemento a estimular expectativa de melhora do fluxo cambial.

A perspectiva é que o IPO da Vivara Participações movimente cerca de 2 bilhões de reais e que a oferta secundária de ações do Banco do Brasil (SA:BBAS3) gire em torno de 5,75 bilhões de reais --ambos com esperados aportes de investidores estrangeiros.

"Também o auge do movimento de troca de dívida das empresas, como sinalizado pelo Banco Central, deve ter ficado para trás. À medida que essas saídas (de recursos) diminuem, há menos pressão sobre o dólar", disse Luiz Eduardo Portella, sócio-fundador da Novus Capital.

A queda da Selic a sucessivas mínimas recordes reduziu o custo de captação de recursos no mercado local. Com isso, muitas empresas com dívidas em moeda estrangeira decidiram antecipar pagamentos dessas obrigações para se financiarem em reais. Esse movimento gera fluxo cambial negativo, o que exerce pressão de alta para o dólar.

Esse movimento foi reconhecido pelo Banco Central, mas recentemente o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, disse que grande parte do movimento de pré-pagamento de dívida corporativa já foi feito.

"Talvez comprar juro possa se tornar um 'trade' melhor para proteger posições em bolsa. Pode ser o fim de um combo 'compra de dólar, venda de juros' que já dura uns três anos", afirmou Portella.

O real "surfaria" numa onda positiva para emergentes também à medida que os indicadores dos EUA se mostram mais fracos em relação aos de outros países, o que elevaria apostas de cortes de juros nos EUA --movimento que reduziria o apelo ao dólar.

Dados dos setores manufatureiro e de serviços nos EUA vieram piores que o esperado para setembro, enquanto no Brasil e na China números semelhantes mostraram recuperação.

Nesta quinta, o mercado turbinou a mais de 90% a probabilidade de novo corte de 0,25 ponto percentual do juro nos Estados Unidos. Quanto menor a taxa por lá, mais chances de investidores trazerem recursos para mercados emergentes, como o Brasil.

Últimos comentários

Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2025 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.