Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro embarca na noite deste segunda-feira para Moscou em uma viagem curta, mas que, em meio ao momento de tensão entre Rússia, Ucrânia e os países da Otan, ganhou uma dimensão maior do que o esperado.
Apesar das pressões do governo norte-americano para que Bolsonaro desistisse da viagem, o presidente insistiu que o país tem negócios com a Rússia e a visita tem interesses comerciais importantes para o país.
"Temos agora a viagem a Rússia, sabendo do momento difícil que existe naquela região. Temos negócios com eles, comerciais. Em grande em parte nosso agronegócio depende de fertilizantes deles, temos assuntos para tratar sobre defesa, sobre energia, muita coisa para tratar. Somos um país soberano", disse a apoiadores na manhã desta segunda-feira, ao deixar o Palácio da Alvorada.
Em meio a informações dos EUA de que a Rússia pode invadir a Ucrânia a qualquer momento, o governo brasileiro caminha em uma linha fina para não desagradar a nenhum dos lados. Dentro do próprio governo brasileiro tentou-se convencer Bolsonaro a adiar a viagem, mas ele se recusou. A recomendação agora é que se evite o assunto Ucrânia.
O próprio Bolsonaro já afirmou que só vai tratar do assunto se for levantado pelo presidente russo, Vladimir Putin. Nesta segunda, afirmou que "se for possível" levará "uma palavra de paz".
"O mundo todo tem seus problemas. Se você for começar a querer resolver o problema dos outros... se for possível levar uma palavra de paz, tudo bem. Se sabe o que está em jogo, não vou entrar em detalhe aqui", disse. "A gente quer a paz, mas tem que entender que todo mundo é ser humano aí ... se dependesse de uma palavra minha o mundo teria paz."
Bolsonaro parte para Moscou às 19h desta segunda e a previsão de chegada é no final da tarde de terça-feira, sem compromissos marcados.
O encontro com Putin está marcado para a manhã de quarta, dia 16, seguida de um almoço no Kremlin. À tarde, Bolsonaro tem um encontro com o presidente da câmara baixa do Parlamento russo, a Duma, e em seguida um encontro de empresários brasileiros e russos. No dia seguinte, pela manhã, já parte para a Hungria.
Em meio à crise entre Rússia, Ucrânia, Estados Unidos e União Europeia, e uma epidemia de Covid-19 que segue descontrolada na Rússia, tanto a viagem quanto a comitiva de Bolsonaro acabaram sendo cortadas. O presidente ficará apenas pouco mais de 24 horas na capital russa e sua equipe perdeu a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, da Justiça, Anderson Torres, e do secretário de Cultura, Mario Frias, e seus quatro assessores que acompanhariam a viagem.
Também deixará de viajar a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que estava no centro de uma das principais negociações da viagem, a garantia do fornecimento de fertilizantes ao Brasil. Tereza, no entanto, está com Covid-19 e, segundo sua assessoria, o teste mais recente ainda teve resultado positivo, o que a impede de viajar.
Estarão na comitiva o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que deve tratar dos últimos detalhes da aquisição pela empresa russa Acron da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3) da Petrobras (SA:PETR4), fábrica que fica em Três Lagoas (MS) e estavam com a construção parada há oito anos.
Também estão na comitiva o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e diversos militares relacionados à venda e compra de materiais bélicos. Na pauta da viagem, além dos fertilizantes, está a possibilidade de uma cooperação militar e para desenvolvimento das Forças Armadas, segundo o Itamaraty, que não deu detalhes.
A previsão é de uma reunião entre o chanceler Carlos França, Braga Netto, e seus contrapartes russos, também na tarde de quarta-feira.