Por Nick Mulvenney
AL RAYYAN, Catar (Reuters) - O presidente da Fifa, Gianni Infantino, chamou de hipócritas as pessoas que criticam o Catar, anfitrião da Copa do Mundo, por seu tratamento dos trabalhadores migrantes, acrescentando que o engajamento é a única maneira de avançar na questão dos direitos humanos.
Em uma declaração longa, e às vezes enfurecida, na abertura de uma entrevista coletiva às vésperas do início do torneio, Infantino se dirigiu aos críticos europeus do país sede sobre as questões de trabalhadores estrangeiros e direitos LGBT.
"Eu sou europeu. Pelo que temos feito ao longo de 3 mil anos ao redor do mundo, nós deveríamos pedir desculpas pelos próximos 3 mil anos antes de darmos lições de moral", disse Infantino.
"Eu tenho dificuldades para entender as críticas. Temos que investir em ajudar essas pessoas, na educação e para oferecer a elas um futuro melhor e com mais esperança. Deveríamos nos educar, muitas coisas não são perfeitas, mas a reforma e a mudança levam tempo. Essa lição de moral unilateral é só hipocrisia", afirmou.
"Não é fácil aceitar críticas sobre uma decisão que foi tomada há 12 anos. Doha está pronta, o Catar está pronto e é claro que será a melhor Copa do Mundo da história."
Infantino falou sobre sua própria experiência como filho de trabalhadores migrantes crescendo na Suíça, e disse que teria sofrido assédio e ataques por ser italiano e por ter cabelo ruivo e sardas.
"Eu sei o que é ser discriminado, eu sei o que é sofrer bullying", declarou.
"O que você faz? Você começa a se envolver, é isso que deveríamos estar fazendo... o único jeito de conseguirmos resultados é nos envolvendo."
"Eu acredito que as mudanças que aconteceram no Catar talvez não acontecessem, ou pelo menos não nessa velocidade, sem a Copa. Obviamente, precisamos manter a pressão, obviamente precisamos tentar melhorar as coisas."
As declarações provocaram uma repercussão entre defensores dos diretos humanos.
"Ao varrer para o lado as críticas legítimas ligadas aos direitos humanos, Gianni Infantino está dispensando o preço imenso pago pelos trabalhadores imigrantes para fazer esse torneio emblemático - assim como a responsabilidade da Fifa por ele", afirmou Steve Cockburn, da Anistia Internacional.
Cockburn disse que as demandas por compensações justas não deveriam ser "tratada como algum tipo de guerra cultural".