Investing.com – O ano de 2024 promete ser de muita volatilidade no mercado de ações, diante de eventos como as eleições nos EUA, as decisões dos bancos centrais e as tensões geopolíticas. Para Melda Mergen, estrategista-chefe de ações globais da Columbia Threadneedle Investments, os investidores terão que se proteger com uma carteira que gere alfa, priorizando a análise dos fundamentos das empresas, em vez de apostar cegamente em crescimento ou valor, ou em large caps ou small caps.
“Juros altos por mais tempo” vão separar o joio do trigo
Nos EUA, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) parece ter encerrado o ciclo de alta dos juros, com uma pausa prolongada, diante de um cenário de inflação persistente, emprego estável e crescimento econômico sólido. “É importante lembrar – destaca a analista - que a atuação dos bancos centrais para conter a inflação tem um impacto direto nas empresas”.
Em primeiro lugar, para Mergen, “isso afeta a demanda, pois os consumidores, depois de gastarem suas economias, vão sentir o aperto monetário e reduzir o consumo, não só de bens de luxo”. Em segundo lugar, continua a especialista, “o aumento dos custos operacionais e de financiamento vai pesar mais sobre as empresas menores, que dependem de empréstimos de curto prazo. Por fim – acrescenta - o poder de precificação, que até agora sustentou os lucros de muitas empresas, pode enfraquecer, pois fica cada vez mais difícil repassar o aumento de custos para os consumidores finais”.
Em suma, a Columbia Threadneedle Investments acredita que o principal risco para os mercados é que os investidores estão subestimando a magnitude de uma possível desaceleração econômica. “De fato – esclarece a gestora -, considerando os níveis atuais de crescimento econômico, parece improvável atingir a meta de inflação de 2% do Fed sem uma recessão potencialmente grave. Por isso, é essencial saber distinguir entre ‘vencedores e perdedores’, e a chave para isso será identificar empresas com balanços sólidos e múltiplos motores de crescimento além da redução de custos.
Tecnologia não será o único setor a impulsionar o mercado dos EUA
Em 2023, impulsionados pelo otimismo com as possibilidades da IA, muitos dos ganhos do S&P500 foram atribuídos ao desempenho de um grupo restrito de empresas de tecnologia.
“Na Columbia Threadneedle” - explica Mergen - “estamos convencidos de que a inteligência artificial será um fator de transformação e crescimento econômico em vários setores, não só no tecnológico. No entanto, acreditamos que as expectativas do mercado são irreais e antecipam essas projeções em três a cinco anos, em vez de 12 a 24 meses. Por outro lado, a concentração de desempenho em 2023 criou oportunidades para investidores que se baseiam em pesquisa, pois há um leque mais amplo de empresas tecnológicas e de outros setores potencialmente ignorados pelo mercado. Acreditamos, portanto, que quando a tendência de crescimento voltar, o mercado será menos monolítico e as oportunidades estarão mais distribuídas”.
Diante de cenário desafiador, especialista recomenda diversificar carteira
Com a expectativa de uma desaceleração econômica, a especialista sugere reforçar as alocações estratégicas fora dos Estados Unidos, com foco em mercados emergentes e small caps, duas áreas que, na sua opinião, estão subalocadas pelos investidores.
"As small caps são vantajosas porque, em caso de recessão, seriam as primeiras a sofrer. Mas acreditamos que há boas oportunidades de seleção de ações tanto em small caps de crescimento quanto em value. Além disso, em termos de preço/lucro, as avaliações na Europa são mais atraentes do que nos Estados Unidos, mas os papéis podem ser mais sensíveis aos fatores macro e às taxas. Nesse cenário, é fundamental, mais uma vez, uma seleção cuidadosa", afirma.
Oportunidades de Investimento
Hoje, os rendimentos de títulos líquidos e dos mercados monetários estão nos maiores níveis em quinze anos, sendo o instrumento preferido pelos investidores. "No entanto” - alerta Mergen - “em um contexto de inflação mais alta, os investidores precisarão de valorização do capital, além de renda, para atingir seus objetivos de longo prazo. De fato, a liquidez, que oferece um rendimento atraente agora, vai cair assim que os bancos centrais cortarem as taxas".
Para a gestora, uma ótima fonte de renda alternativa são as ações de dividendos, "que também podem oferecer valorização do capital. Os papéis que pagam dividendos não são todos iguais. Para gerar renda sustentável, é preciso encontrar empresas que aumentem os dividendos e que tenham balanços capazes de sustentar essas distribuições, mesmo com mais volatilidade".
Encontrar empresas de qualidade pode gerar desempenho superior em períodos de recessão
Mergen prevê que 2024 pode ser um ano desafiador para o mercado de ações. No entanto, ela reforça a crença de que as ações são sempre uma escolha estratégica para investimentos a longo prazo. "Se os investidores adotarem uma abordagem ativa de investimento, fundamentada na análise criteriosa das empresas para ajustar suas alocações, poderão neutralizar os riscos e manter o equilíbrio frente a perdas como as observadas em índices como o S&P 500", destaca a analista. Ela enfatiza que, mesmo sem a necessidade de aumentar a participação em ações, é essencial não tomar decisões precipitadas de venda diante de flutuações de curto prazo do mercado.
A especialista conclui que, em um cenário de desaceleração econômica, os investidores que focarem em empresas com bases sólidas ainda poderão encontrar oportunidades valiosas para reforçar seus investimentos estratégicos de longo prazo a preços atrativos.