PF vê articulação de Bolsonaro com advogado de empresa de Trump para interferir em processo no STF
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), disse que há diálogo entre o Brasil e os Estados Unidos pelos canais institucionais. A fala contrasta com o que havia dito o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), em 11 de agosto: que os integrantes do governo brasileiro “não estão conseguindo sequer sentar à mesa para dialogar” com os Estados Unidos.
Haddad falou depois de o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), dizer que uma ligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para Donald Trump (Partido Republicano) resolveria o tarifaço. “Quando 2 chefes de Estado se falam, existe preparação prévia para que o telefonema resulte na melhor condição de negociação para os 2 países. Quando 3 ministros —Itamaraty, Fazenda e Desenvolvimento— não estão conseguindo sequer sentar à mesa para conversar, quando existe este tipo de resistência em função da atuação de pseudo-brasileiros em Washington, que não estão defendendo os interesses do Brasil, mas o seu próprio interesse, penso que o governador está sendo ingênuo de achar que esse telefone é a chave. Não é”, disse.
Em entrevista ao jornal O Globo publicada na 4ª feira (20.ago.2025), Alckmin afirmou que representantes do Brasil e dos Estados Unidos seguem conversando e que Lula só falará com Trump quando houver condições.
Durante a entrevista a Miriam Leitão, o vice-presidente desconversou em alguns momentos. A jornalista pressionou por respostas objetivas, mas Alckmin falou de forma genérica.
“Mas, hoje, não tem nenhuma porta aberta no governo americano. O ministro Fernando Haddad não consegue falar com o Scott Bessent [secretário do Tesouro dos EUA]. O senhor não está falando com o Howard Lutnick [secretário do Comércio dos EUA], que não tem falado nas últimas semanas. O [ministro das Relações Exteriores do Brasil] Mauro Vieira não tem falado com o Marco Rubio [secretário de Estados dos EUA], então nós não temos uma mesa de negociação”, disse Miriam.
Alckmin respondeu: “Tem diálogo. Tem diálogo pelos canais institucionais. Então vamos continuar a dialogar”.
Sobre uma conversa entre Lula e Trump, Alckmin declarou que “alguns maus brasileiros ficam lá fora trabalhando contra o país” e que o diálogo deve ser feito “quando o quadro estiver melhor esclarecido”.
Ele afirmou que Lula “é o homem do diálogo” e “passou a vida inteira como líder sindical, lutando pelos trabalhadores, conquistas e diálogo”. Alckmin afirmou: “Esse é o bom caminho”.
Em outro momento, Miriam buscou uma resposta direta sobre a falta de retorno de Howard Lutnick às ligações do Brasil, mas Alckmin evitou a explicação objetiva e voltou a falar sobre a injustiça em relação às tarifas.
“Se o senhor ligar agora para ele, ele não atende? Por que ele não atende?”, perguntou a jornalista. Alckmin apenas disse que ele e o secretário norte-americano já tiveram várias conversas e desviou o foco para a questão das tarifas.
Durante a entrevista, Alckmin ressaltou que não faz sentido os EUA colocarem como justificativa para o tarifaço o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está em prisão domiciliar.
Ele também falou sobre medidas internas do governo, como pacotes para apoiar os setores mais atingidos, com o objetivo de preservar produção e emprego, e citou negociações do Mercosul com Cingapura, União Europeia, EFTA (sigla para Associação Europeia de Comércio Livre), Índia e México, citando a importância de diversificar mercados e reduzir a dependência dos EUA.
Na 4ª feira (20.ago), Alckmin anunciou uma mudança nas regras de taxação dos EUA que deve beneficiar as exportações brasileiras, com alívio de US$ 2,6 bilhões.
Segundo Alckmin, o Departamento de Comércio norte-americano decidiu que o conteúdo de aço e alumínio em produtos industrializados do Brasil não será mais sobretaxado em 50%, passando a seguir a regra global, de 25%.