BRASÍLIA (Reuters) - O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) afirmou nesta terça-feira que pode fatiar o envio de uma proposta de reforma da Previdência ao Congresso Nacional, que inicialmente deve contemplar mudanças nas regras para o setor público e também que preveja a adoção de uma idade mínima para o recebimento de benefícios, com diferentes idades para a aposentadoria de homens e mulheres.
Em entrevista coletiva, Bolsonaro disse que a tendência "bastante forte" é que a reforma comece pela adoção da idade mínima, ao considerar esse caminho como o "menos difícil" de ser aprovado pelos parlamentares.
"Nós queremos, sim, apresentar uma Proposta de Emenda à Constituição, a começar pela Previdência pública e com chances de ser aprovado", disse.
"Não adianta você ter uma proposta ideal que vai ficar na Câmara ou no Senado. Aí acho que o prejuízo seria muito grande", acrescentou. "Então a ideia é por aí, começar pela idade, atacarmos os privilégios e tocar essa pauta para frente. A Previdência é uma realidade, ela cresce ano após ano e não podemos deixar o Brasil chegar à situação que chegou a Grécia para tomar uma providência."
Sem dar detalhes, Bolsonaro deu a entender que a ideia seria adotar uma proposta de idade mínima com a diferença de idade de aposentadoria entre mulheres e homens em 2 anos na reforma a ser encaminhada ao Congresso no seu governo.
No atual regime previdenciário, o contribuinte pode se aposentar sem idade mínima, com 35 anos de contribuição para homens e 30 anos para mulheres. Na modalidade que exige idade mínima, é necessário ter 15 anos de contribuição e 60 anos (mulher) e 65 anos (homem) na aposentadoria urbana.
A proposta enviada pelo governo do presidente Michel Temer, que está parada no Congresso, propõe a idade mínima de 62 anos para mulheres e 65 para homens.
Após se reunir com deputados das bancadas do MDB e do PRB, o presidente eleito disse que "em grande parte" os parlamentares se mostraram dispostos a aprovar as propostas do seu governo.
"Até vamos inovar, antes de mandarmos qualquer projeto para a Câmara, vamos ouvir no Planalto as lideranças, vamos debater, debater com o quadro técnico deles para quando a proposta for para a Câmara já estará bastante debatida", disse.
Bolsonaro ressalvou, entretanto, que não há alinhamento automático de partido e que não é isso que busca.
"Nós buscamos é o entendimento. É o que eu tenho falado para eles, posso não saber a fórmula do sucesso, mas do fracasso é essa que foi usada até o momento, é distribuir ministérios, bancos para partidos políticos, isso não deu certo", afirmou.
Em tom de brincadeira com um repórter que perguntou o que ofereceu aos partidos, se foi "carinho" e "atenção", o presidente eleito respondeu "muito amor".
"Olha só, desculpa a brincadeira, conheço você há algum tempo. Nós aceitamos aqui indicações da bancada da agricultura, da bancada também da saúde, isso aí é interesse de grande parte dos parlamentares, ali tem parlamentar de tudo quanto é partido. Nós temos falado aqui, nessas duas reuniões, que os ministérios estão abertos aos parlamentares, nenhum pedido deles desde que não seja ilegal e impossível de ser atendido deixará de ser atendido", disse.
Sobre as emendas parlamentares, o presidente eleito indicou que se elas são impositivas não se deveria postergar seu pagamento. "Acho que o deputado tem que ter a sua emenda liberada o mais rápido possível."
(Reportagem de Ricardo Brito)