BRASÍLIA (Reuters) - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), descartou nesta terça-feira renunciar ao cargo após a Polícia Federal realizar buscas e apreensões em residências do deputado e classificou de "estranha" a operação da PF, que também teve como alvo ministros e parlamentares do PMDB.
Em tom bastante duro durante entrevista na Câmara, Cunha também disse que o PT, partido da presidente Dilma Rousseff, realizou um "assalto" no país e classificou de nula a decisão do Conselho de Ética da Câmara, que aprovou prosseguimento de processo que pede sua cassação, garantindo que irá recorrer desta deliberação do colegiado.
"De jeito nenhum", disse Cunha a jornalistas quando questionado se renunciaria à presidência da Câmara.
"Estou dizendo desde março que fui escolhido para ser investigado, eu sou o desafeto do governo e me tornei mais desafeto ainda à medida em que dei curso ao processo de impeachment", disse Cunha.
A operação deflagrada pela PF nesta terça-feira também teve como alvo, além do presidente da Câmara, os ministros da Ciência e Tecnologia Celso Pansera, eleito deputado pelo PMDB do Rio de Janeiro, e do Turismo, Henrique Eduardo Alves, também do PMDB e ex-presidente da Câmara dos Deputados, segundo uma fonte do STF.
O ex-ministro de Minas e Energia e atual senador Edison Lobão (PMDB-MA) e o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) também são alvo da operação, de acordo com a fonte.
"O que eu estranho só é a gente estar num momento, no dia que vai ter o Conselho de Ética, às vésperas da decisão do processo de impeachment, e de repente deflagram uma operação de uma forma um pouco estranha, porque está em cima de um inquérito que já tem denúncia feita há quatro meses", disse.
"Uma operação concentrada no PMDB. A gente sabe que o PT é responsável por esse assalto que aconteceu no Brasil, pelo assalto da Petrobras (SA:PETR4)... todo dia tem denúncia de caixa dois para o PT, todo dia tem a roubalheira do PT sendo fotografada e de repente fazer uma operação para o PMDB. Isso causa muita estranheza a todos nós", disparou.
Cunha voltou a defender que o PMDB saia do governo da presidente Dilma Rousseff.
"O PMDB tem que decidir rapidamente a sua saída desse governo, o mais rápido que puder", disse.
Ele também criticou a decisão do Conselho de Ética, que após seguidos adiamentos, aprovou nesta terça-feira o prosseguimento do processo contra ele. Segundo o presidente da Câmara, o Conselho praticou "mais um absurdo, que certamente será anulado". Cunha disse que deve recorrer da decisão.
"Essa decisão é nula, eu vou entrar com meu recurso... provavelmente eu entre no Supremo Tribunal Federal, por cerceamento de defesa."
Os aliados de Cunha questionaram, ao fim da reunião, a decisão do conselho de não permitir pedido de vista ao novo relatório, favorável ao prosseguimento do processo, que foi aprovado nesta terça.
(Reportagem de Leonardo Goy)