Por Riham Alkousaa
BERLIM (Reuters) - As práticas da polícia alemã promovem a discriminação sistêmica, com policiais rotineiramente envolvidos em perfilamentos raciais e recorrendo a estereótipos étnicos, de acordo com um estudo publicado nesta segunda-feira por um portal online que rastreia dados sobre imigração e asilo.
O estudo da Mediendienst Integration chega em meio a preocupações entre ativistas sobre o aumento do racismo na Alemanha e a ascensão do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
No trabalho rotineiro da polícia, as minorias étnicas, especialmente aquelas percebidas como imigrantes, são desproporcionalmente visadas em patrulhas, avaliações de risco e interações policiais, segundo o estudo, realizado no Estado da Baixa Saxônia, no oeste da Alemanha.
"Descrevemos os hábitos e padrões de trabalho da polícia que podem ser transferidos para todas as forças policiais", disse Astrid Jacobsen, coautora do estudo, a jornalistas nesta segunda-feira.
Não houve resposta do Ministério do Interior sobre estudo em um primeiro momento.
As conclusões indicam que os policiais geralmente se baseiam em marcadores raciais em vez de comportamento ao realizar patrulhas proativas.
Indivíduos vistos como "africanos negros" ou "albaneses" são frequentemente associados a crimes relacionados a drogas, o que leva a uma maior atenção da polícia, acrescentou.
Grupos como europeus do sul, russos e os chamados membros do "clã" são rotulados como mais violentos ou não cooperativos, segundo o estudo, o que leva a uma resposta exagerada da polícia.
A pesquisa, conduzida por dois professores da Academia de Polícia da Baixa Saxônia, também demonstrou que os policiais muitas vezes presumem hostilidade ou desrespeito por parte de jovens de ascendência árabe ou turca, assim como de indivíduos politicamente de esquerda, o que resulta em um tratamento mais severo.
EXCESSO DE POLICIAMENTO
Essas suposições levam a um policiamento excessivo, com uma força maior empregada em situações que envolvem esses grupos, independentemente do nível real de ameaça, além de reforçar percepções negativas desses grupos como ameaças à segurança pública.
Questionada sobre o possível impacto de um ataque com mortes ligado ao Estado Islâmico na cidade de Solingen, no oeste da Alemanha, sobre o aumento do perfilamento racial, Jacobsen disse que a criminologia identifica claramente a experiência da discriminação como um fator fundamental na radicalização na Alemanha.
Descobriu-se que as barreiras linguísticas exacerbam a discriminação. A polícia tende a encerrar prematuramente as entrevistas com pessoas que não falam alemão devido a restrições de tempo e à falta de serviços de tradução adequados, o que leva a investigações incompletas e apoio insuficiente às vítimas.
Ativistas e alguns políticos há muito tempo acusam a polícia de não fazer o suficiente para encontrar nacionalistas potencialmente violentos em suas fileiras, uma questão delicada na Alemanha, onde a consciência das atrocidades nazistas antes e durante a Segunda Guerra Mundial é forte.
Em 2020, 29 policiais foram suspensos por compartilhar fotos de Adolf Hitler e imagens adulteradas de refugiados em câmaras de gás em chats privados.
(Reportagem de Riham Alkousaa)