Ex-intermediário de projeto de Trump no Panamá é investigado por autoridades no Brasil

Publicado 17.11.2017, 19:30
© Reuters. Alexandre Ventura Nogueira chega a escritório da Procuradoria-Geral no Panamá
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Por Brad Brooks

AMERICANA (Reuters) - Procuradores federais brasileiros investigam criminalmente por suposta lavagem de dinheiro um homem no centro de uma investigação feita pela Reuters sobre o primeiro projeto de hotel internacional do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A Reuters revisou mais de 350 páginas de uma investigação selada da Polícia Federal sobre Alexandre Ventura Nogueira, que passou dois anos no Brasil após fugir do Panamá em 2012. O inquérito não tinha sido divulgado previamente. Nogueira foi essencial na venda de diversas unidades do Trump Ocean Club International Hotel and Tower, na Cidade do Panamá, segundo uma investigação da Reuters e da NBC News.

“O MPF em São Paulo investiga desde 2013 Alexandre Henrique Ventura Nogueira pela prática de crimes financeiros e lavagem de dinheiro, que podem estar ocorrendo por meio de seus negócios no Brasil”, informou o Ministério Público Federal em comunicado.

A investigação desacelerou após Nogueira deixar o Brasil em outubro de 2014, mas a procuradoria acrescentou no comunicado: “O caso continua em aberto e as autoridades brasileiras têm ciência das atividades suspeitas realizadas pelo investigado em outros países e espera contribuir na localização de seu paradeiro”.

Nogueira, de 43 anos, disse à Reuters que havia lavado dinheiro para autoridades corruptas no Panamá, mas disse não estar ciente de uma investigação federal sobre ele no Brasil. Ele negou qualquer ato irregular no Brasil e não enfrenta acusações criminais no país.

Nogueira foi preso por autoridades panamenhas em 2009 sob acusações de fraude e falsificação, não relacionadas ao projeto de Trump. Solto sob fiança de 1,4 milhão de dólares, ele então fugiu do país e é considerado um fugitivo pelo Panamá.

A procuradora Karen Kahn disse que a investigação federal brasileira teve início em 2013 após o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda, notar diversas transferências de mais de 1 milhão de reais de contas do HSBC e Citibank no Panamá registradas sob o nome de Alexander Ukstin para contas brasileiras de Nogueira no Banco do Brasil (SA:BBAS3), Citibank e Santander (SA:SANB11).

Nogueira confirmou à Reuters que havia realizado transferências monetárias do Panamá para o Brasil, algumas vezes usando um pseudônimo, incluindo o nome Ukstin, mas disse ter sido seu próprio dinheiro.

O Citibank no Brasil, o Banco do Brasil e o Santander não comentaram. Porta-vozes sediados nos EUA do HSBC e Citibank se negaram a comentar sobre as contas de Nogueira no Panamá.

Nogueira também enfrenta 19 processos civis em tribunais estaduais de São Paulo. Os processos possuem mais de 3.100 páginas, em maioria relacionadas a acusações de fraudes em cinco postos de gasolina que abriu dentro e nos arredores de Americana, uma cidade de 233 mil habitantes localizada a 125 quilômetros de São Paulo.

© Reuters. Alexandre Ventura Nogueira chega a escritório da Procuradoria-Geral no Panamá

Nogueira disse à Reuters que os negócios eram legítimos e que os casos surgiram de eventos fora de seu controle. Ele disse que deixou o Brasil com somente alguns milhares de dólares. Seus ex-sócios no Brasil alegam em processos que ele os enganou em centenas de milhares de dólares.

A Polícia Federal buscou ajuda da Interpol, que confirmou que a polícia panamenha também abriu um inquérito sobre suposta lavagem de dinheiro de Nogueira, mas não deu mais detalhes.

A PF informou que o último paradeiro conhecido de Nogueira foi em 2015 – quando o localizaram em um país no sudeste da Ásia. Sem mandados de prisão ou acusações no Brasil, a polícia pode somente monitorar os movimentos de Nogueira.

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