Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Michel Temer afirmou nesta sexta-feira, em café da manhã com jornalistas, que não há a "menor cogitação" de transferir o controle da Embraer (SA:EMBR3) para outra empresa e disse que não chegou a seu gabinete uma decisão sobre conversas entre Boeing e fabricante de aviões brasileira.
"Quando chegar (uma decisão), eu examinarei", disse o presidente a jornalistas, ao destacar que toda parceria comercial é "bem-vinda".
Temer disse que "golden share serve para isso, para o governo tomar essa decisão", em uma referência à ação especial que dá ao governo poder de veto em decisões estratégicas da Embraer.
Na véspera, Embraer e Boeing afirmaram que estão discutindo uma combinação de seus negócios, em um movimento que pode consolidar um duopólio global na indústria de aviação.
O presidente escalou o ministro da Defesa, Raul Jungmann, presente ao café da manhã, para dar maiores explicações sobre a posição do governo brasileiro em relação à Embraer.
Jungmann detalhou que a Boeing procurou a Embraer para começar negociações e destacou que é a favor dessa e de outras parcerias, também classificando-as como bem vindas. Mas ele endossou a posição do presidente contrária à venda do controle acionário por avaliar que a empresa nacional é estratégica para interesses de defesa e soberanias nacionais.
"Somos favorável a essa e a outras parcerias, entretanto, nós temos a exata compreensão de que a Embraer, por ter um forte componente de defesa, que a Embraer é o coração de um 'cluster' de inovação, tecnologia e conhecimento, que são decisivos para um projeto nacional autônomo, a sua venda, transferência do seu controle acionário, desserve os interesses e a soberania nacionais", disse.
Segundo o ministro, uma eventual transferência do controle acionário da Embraer para uma empresa de outro país levaria a essa nova companhia a ter o controle de decisões estratégicas como o programa de construção dos caças Gripen, fabricados pela empresa sueca Saab, o projeto de venda do avião cargueiro militar KC-390, a produção dos aviões supertucanos e a tecnologia relacionada ao satélite estacionário brasileiro.
"Nenhum país abre mão disso", destacou Jungmann.
Após as declarações do governo brasileiro, um porta-voz da Boeing afirmou que a empresa sempre teve "profundo respeito" pelo papel do governo do Brasil e sobre suas preocupações com defesa e segurança, acrescentando que as negociações com a Embrar prosseguem.
As ações da Embraer fecharam em queda de 1,44 por cento nesta sexta-feira, enquanto o Ibovespa encerrou com oscilação positiva de 0,07 por cento. Analista do setor de aviação avaliam que uma parceria da Embraer com a Boeing seria mais provável por meio de uma venda de participação para o grupo norte-americano. 2017-12-22T220609Z_1_LYNXMPEDBL1IZ_RTROPTP_1_POLITICA-TEMER-EMBRAER-NAOCOGITA.JPG