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Lava Jato chega a Lula e MPF diz que governo Dilma foi beneficiado por esquema na Petrobras

Publicado 04.03.2016, 15:47
© Reuters. Manifestantes dão apoio ao ex-presidente Lula em frente a sua residência em São  Bernardo do Campo
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SÃO PAULO/CURITIBA (Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi levado para depor nesta sexta-feira em nova etapa da operação Lava Jato sob suspeita de ser beneficiário de crimes envolvendo a Petrobras (SA:PETR4), aproximando ainda mais a investigação do atual governo.

Pela primeira vez desde o início da Lava Jato, o governo da presidente Dilma Rousseff foi citado pelo MPF como favorecido pelo esquema de corrupção e lavagem de dinheiro.

"Fica claro que o benefício político recebido foi basicamente do ex-presidente Lula e atualmente da atual presidente", disse em Curitiba o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos responsáveis pela força-tarefa da Lava Jato.

Ao mesmo tempo, Lima lembrou que Dilma não é e nem poderia ser investigada pela Lava Jato na capital paranaense. Por ter foro privilegiado, qualquer eventual ação investigativa relacionada à presidente teria que passar pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília.

A 24ª fase da Lava Jato envolvendo Lula, denominada Aletheia, acontece um dia após notícias de que o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo no Senado, teria acertado delação premiada e que em seus futuros depoimentos detalharia atos ilícitos de Lula e de Dilma.

Cerca de 200 policiais e 30 auditores da Receita Federal cumpriram 34 mandados de busca e apreensão, um a mais do que o inicialmente reportado, e 11 de condução coercitiva, incluindo o de Lula em São Bernardo de Campo (SP), de acordo com a Polícia Federal.

Segundo o MPF, as ações têm por objetivo aprofundar a investigação de possíveis crimes de corrupção e lavagem de dinheiro praticados por meio de pagamentos dissimulados feitos pelo pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, e pelas construtoras OAS e Odebrecht ao ex-presidente e a pessoas associadas.

Lula, além de líder partidário, disse a MPF em nota, era o responsável final pela decisão de quem seriam os diretores da Petrobras e "foi um dos principais beneficiários dos delitos".

"De fato, surgiram evidências de que os crimes o enriqueceram e financiaram campanhas eleitorais e o caixa de sua agremiação política", acrescentou o MPF.

O Ministério Público disse ainda que há ainda evidências de que o ex-presidente recebeu, em 2014, pelo menos 1 milhão de reais sem aparente justificativa econômica lícita da OAS, uma das empreiteiras envolvidas na Lava Jato, por meio de reformas e móveis de luxo destinados a apartamento tríplex no Condomínio Solaris, no Guarujá (SP).

Além do tríplex, a PF investiga um sítio em Atibaia (SP), também sob suspeita de ocultação de patrimônio pelo ex-presidente.

Ambos os imóveis foram relacionados com empreiteiras investigadas na Lava Jato. Lula tem negado que seja dono do apartamento no litoral e do sítio no interior paulista.

O ex-presidente depôs durante toda a manhã desta sexta-feira e, após ser liberado, seguiu para a sede do diretório nacional do PT em São Paulo. O procurador do MPF disse que não há investigações conclusivas que justificassem um pedido de prisão de Lula.

Lula presidiu o Brasil de 2003 a 2010. Ele deixou a Presidência com recordes históricos de aprovação, mas vem perdendo popularidade, segundo pesquisas de opinião, diante das investigações contra ele e do quadro econômico vivido pelo país sob a administração de Dilma, da qual ele é padrinho político.

Manifestantes a favor e contra o ex-presidente faziam protestos no aeroporto de Congonhas (SP), onde Lula depôs, na frente de sua residência em São Bernardo do Campo e do Instituto Lula, também alvo de mandados de busca.

No mercado financeiro, o dólar tinha forte queda ante o real e a Bovespa avançava, diante de apostas de maior chance de troca de governo, com implicações nos cenários político e econômico.

SURPRESA NO PLANALTO

Embora o Palácio do Planalto já esperasse alguma ação da Lava Jato contra Lula esta semana, foi surpreendido com o mandado de condução coercitiva contra o ex-presidente e os de busca e apreensão envolvendo membros da sua família e pessoas próximas.

O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, criticou a ação contra Lula, que classificou como um "exagero".

"A primeira leitura é que é um exagero e, no meu entender, é ruim. Ficou nítido pela imprensa que ele sempre se colocou à disposição para prestar todos os esclarecimentos, para colaborar com as investigações", disse Edinho.

O presidente do PT, Rui Falcão, pediu que todos os diretórios estaduais entrem em vigília e disse que o momento é de mobilização dos militantes. Para ele, a nova fase da Lava Jato foi "midiática e policialesca" que visa atingir o PT, Lula e o governo Dilma.

O MPF argumentou que o mandado de condução coercitiva contra Lula foi necessário por questões de segurança, já que um depoimento agendado do ex-presidente implicaria em maior chance de tumulto.

MAIS ENVOLVIDOS

A mais recente fase da Lava Jato ocorreu nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.

A operação também envolve a ex-primeira-dama Marisa, os filhos do ex-presidente Marcos Cláudio, Fábio Luis e Sandro Luis, e a nora Marlene Araújo, segundo informações na mídia local. O Instituto Lula e a LILS Palestras também estão sob investigação.

Segundo o MPF, estão sendo investigados pagamentos feitos por construtoras beneficiadas no esquema Petrobras em favor do Instituto Lula e da LILS Palestras, em razão de suspeitas levantadas pelos ingressos e saídas dos valores.

A maior parte do dinheiro que ingressou em ambas as empresas, de 2011 a 2014, veio de empresas do esquema Petrobras, entre elas Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e UTC, disse o MPF.

Segundo MPF, dos 35 milhões de reais que ingressaram no Instituto Lula no período, 20,7 milhões de reais foram repassados pelas empreiteiras. Na LILS Palestra, foram 10 milhões de reais, do total de 21 milhões de reais recebidos.

A Receita Federal, que colabora na Lava Jato, disse haver uma possível "confusão operacional e financeira" entre o Instituto Lula e a LILS Palestras, a primeira isenta de impostos e a segunda com receitas tributadas.

No último sábado, durante comemorações pelo aniversário do PT, Lula disse que tinha sido informado de que teria seus sigilos bancário, telefônico e fiscal quebrados.

"A partir de segunda-feira vão quebrar meus sigilos fiscal, telefônico, tudo, meu da Marisa, da minha netinha e até da minha mãe. Esse é o preço? Eu pago!", disse Lula. "Mas eu duvido que tenha um mais honesto do que eu."

Em nota, o Instituto Lula disse que a nova fase da Lava Jato é uma agressão ao estado de direito, "arbitrária, ilegal, e injustificável". O instituto disse que Lula sempre colaborou com a Justiça, espontaneamente ou quando convidado.

© Reuters. Manifestantes dão apoio ao ex-presidente Lula em frente a sua residência em São  Bernardo do Campo

Procuradas, Odebrecht e OAS não comentaram o assunto. Representantes da Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e UTC não foram imediatamente localizados para falar sobre o tema.

(Por Redação São Paulo, com reportagem adicional de Thais Skodowski, em Curitiba)

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