Por Paulo Prada e Asher Levine
SÃO PAULO (Reuters) - Uma crise política e econômica em curso mais uma vez ameaça derrubar a principal liderança política do país: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Seu legado, que já havia sido chamuscado pelo escândalo do mensalão envolvendo compra de votos no Congresso, está de novo no olho do furacão com a turbulência econômica e política que levou o índice de aprovação da presidente Dilma Rousseff, sua sucessora escolhida a dedo, para um dígito.
Com a ampla investigação de corrupção da operação Lava Jato, envolvendo a Petrobras (SA:PETR4) e assessores e colaboradores-chave de governos petistas, mais uma vez o Partido dos Trabalhadores, agora em seu 13º ano no poder, volta ao centro de um novo escândalo.
Embora Lula não tenha sido acusado de nenhum crime --e é cedo para descartar um líder que esteve à frente da política brasileira por mais de uma década-- o amor ao homem que foi chamado por Barack Obama de "o político mais popular do planeta" está minguando.
A Polícia Federal prendeu novamente neste mês seu ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no caso do mensalão. O Ministério Público vem fechando acordos de delação premiada com executivos das maiores empreiteiras do país, uma delas próxima a Lula, acusadas de envolvimento no esquema de corrupção com a Petrobras.
Isso tudo combinado significa que mesmo aliados de longa data estão vacilando.
"Na minha opinião e na opinião de muitos, o governo do Lula foi o melhor da história democrática do Brasil... Mas agora está se vendo que as bases que deixou não são tão fortes assim", disse Frei Betto, ex-assessor de Lula.
O desencanto sinaliza a maior mudança na política brasileira desde 2002, quando eleitores, uma vez desconfiados de Lula como radical de esquerda, decidiram confiar a ele o que atualmente é a maior economia da América Latina.
Isto também mostra o quão rapidamente suas realizações como presidente, como a retirada de 40 milhões de pessoas da pobreza, começaram a sofrer abalos. Após um boom de uma década, o Brasil agora passa por uma contração econômica, com desemprego e inflação em alta e com dois em cada três brasileiros querendo o impeachment da sucessora de Lula, segundo pesquisa de opinião.
Até o sólido apoio que Lula desfrutou entre eleitores de mais baixa renda está vulnerável.
"Tudo está ficando pior e pior", disse Marta Marques, gari de 39 anos, no centro de São Paulo. "Tinha fé em Lula no início, mas isto tudo mudou."
A mudança na maré atinge a esperança de seguidores que acreditavam que Lula, cujo carisma e lendária habilidade de negociação que o tornaram até agora politicamente indestrutível, pudessem sacudir o partido e levá-lo a um quinto mandato consecutivo, em 2018.
PERSONIFICAÇÃO DO PARTIDO
No momento, seu maior risco são esforços da mídia e adversários políticos em ligar Lula à corrupção da Petrobras, que começou durante seu mandato e envolveu bilhões de dólares em propinas de empreiteiras para executivos da empresa e operadores do partido em troca de contratos.
Muitos acreditam que um testemunho em qualquer acordo de delação premiada que venha a ser feito por Marcelo Odebrecht, presidente preso da Odebrecht, um dos vários empreiteiros manchados pelo escândalo, seria particularmente preocupante.
A maior construtora da América Latina também é uma das diversas empresas da qual Lula recebeu dinheiro por palestras pagas após deixar o poder.
Em um caso separado, procuradores estão investigando se Lula, em viagens ao exterior depois de deixar a Presidência, usou de forma imprópria sua influência para ajudar a manter os contratos da Odebrecht.
Em aparições públicas e notas oficiais, Lula tem negado repetidamente ilegalidades e classificado os ataques contra ele como investidas contra a classe trabalhadora.
Seus advogados estão processando o jornal O Globo e a revista Veja por reportagens que dizem ser caluniosas.
Verdade ou não, a especulação deu mais munição a críticos do PT.
"Ele personifica o próprio PT. O desgaste do PT é imensurável nessas denúncias de corrupção", disse Antônio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP), deputado da oposição.
Em manifestações pelo Brasil no último domingo, mais críticas do que nunca, quando centenas de milhares de pessoas pediram o impeachment de Dilma, o nome de Lula foi colocado na fogueira.
Em Brasília, um boneco inflável gigante representando o ex-presidente em roupa de presidiário passava por cima da multidão e rapidamente virou assunto na internet.
Embora Lula não tenha abordado recentemente a possibilidade de uma candidatura em 2018, projeções iniciais com ele na disputa sugerem que perderia para o senador Aécio Neves (PSDB-MG), derrotado por Dilma em 2014.
Ainda assim, analistas políticos alertam que Lula não pode ser descartado, a não ser que sejam apresentadas provas que o liguem à corrupção. Quando o esquema de compra de votos derrubou figuras próximas e quase acabou com seu primeiro mandato, Lula se mostrou hábil ao ser afastar do escândalo, conseguindo a reeleição enquanto outros levaram a culpa.
"Ainda não há outro líder no Brasil tão capaz de comunicar e agregar as pessoas", disse Mauro Paulino, diretor do instituto de pesquisas Datafolha.