Por Pedro Fonseca
CURITIBA/RIO DE JANEIRO (Reuters) - O marqueteiro João Santana, que trabalhou nas duas campanhas da presidente Dilma Rousseff e na reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teve pedido de prisão decretado em nova etapa da operação Lava Jato lançada nesta segunda-feira, que também tem como alvo mais uma vez a empreiteira Odebrecht.
Santana, que além das bem-sucedidas campanhas petistas também trabalhou para candidatos vitoriosos no exterior, como o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, é suspeito de ter recebido pagamentos ocultos no exterior realizados pela Odebrecht e pelo operador financeiro do esquema de corrupção na Petrobras (SA:PETR4) Zwi Skornicki, de acordo com o Ministério Público Federal.
Santana ainda não foi detido porque está fora do país, segundo reportagens. Além dele, a publicitária Mônica Regina Cunha Moura também é suspeita de ter recebido pagamentos ilegais no exterior.
De acordo com o MPF, há evidências de que a Odebrecht transferiu 3 milhões de dólares entre abril de 2012 e março de 2013 para conta mantida no exterior por Santana e Mônica, "valor sobre o qual pesam indicativos de que consiste em propina oriunda da Petrobras que foi transferida aos publicitários em benefício do PT".
As investigações também apontaram que Skornicki efetuou transferência no exterior de pelo menos 4,5 milhões de dólares entre setembro de 2013 e novembro de 2014 para conta mantida no exterior pelos publicitários, que à época eram responsáveis pelo marketing da campanha eleitoral do PT.
"A conta dos publicitários, em nome da offshore panamenha Shellbill Finance SA, não foi declarada às autoridades brasileiras", acrescentou o Ministério Público Federal em nota.
Skornicki também é investigado na Lava Jato por suspeita de pagamentos de milhões de dólares em propina em benefício de contratos bilionários feitos pela empresa Keppel Fels, de Cingapura, com a Petrobras e a empresa de sondas de petróleo Sete Brasil, segundo os investigadores.
O executivo da Odebrecht Marcelo Odebrecht, que já está preso no âmbito Lava Jato, é suspeito de envolvimento em outros crimes investigados pela nova etapa da operação, segundo as autoridades, possivelmente tendo controle sobre os pagamentos feitos no exterior por meio de empresas offshore.
"O foco das investigações desta fase é o cumprimento de medidas cautelares... relacionadas a três grupos: um grupo empresarial responsável por pagamento de vantagens ilícitas; um operador de propina no âmbito da Petrobras; e um grupo recebedor, cuja participação fora confirmada com o recebimento de valores já identificados no exterior em valores que ultrapassam 7 milhões de dólares", disse a Polícia Federal em nota.
Segundo a PF, 300 homens cumprem 51 mandados, sendo 38 de busca e apreensão, dois de prisão preventiva, seis de prisão temporária e cinco de condução coercitiva nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
A Odebrecht informou em nota a realização de operação da PF em escritórios da empresa nos três Estados e disse estar à disposição das autoridades para colaborar com a operação em andamento.
A nova fase da Lava Jato foi denominada "Acarajé", em referência ao termo utilizado por alguns investigados para denominar dinheiro em espécie, de acordo com os investigadores.
Antes de se tornar alvo direto da Lava Jato, João Santana já havia se colocado à disposição para prestar depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas ações da operação na primeira instância no Paraná.
A defesa do publicitário protocolou em 20 de fevereiro petição em resposta a despacho de Moro que negou acesso de Santana ao inquérito sobre supostos pagamentos da empreiteira Odebrecht feitos a ele em contas no exterior, segundo reportagens.
Tentativas de imediato da Reuters de contactar Santana não tiveram resposta.
(Reportagem adicional de Guillermo Parra-Bernal, em São Paulo, e Thais Skodowski, em Curitiba)