(Reuters) - A Polícia Federal lançou nesta terça-feira duas operações separadas para investigar suspeitas de favorecimento a frigoríficos e empresas de alimentos pelo Ministério da Agricultura por meio de esquemas de corrupção na fiscalização, e apontou a Minerva (SA:BEEF3) como uma das supostas envolvidas.
Em uma das ações, denominada Operação Lucas, os policiais federais apuram um suposto esquema voltado para o retardamento na tramitação e anulação de multas no ministério de forma a favorecer empresas, que teria movimentado cerca de 3 milhões de reais entre os anos de 2010 a 2016, segundo a PF.
Nessa operação, policiais foram às ruas para cumprir 62 mandados judiciais, sendo 10 de prisão temporária, nos Estados de Tocantins, Pará, São Paulo e Pernambuco.
"A PF apurou, por meio de quebras de sigilos fiscal e bancário, que a chefe de Fiscalização do Mapa (Ministério da Agricultura, Agropecuária e Abastecimento), à época dos fatos, recebia de empresas fiscalizadas valores mensais para custear despesas familiares", disse a Polícia Federal em nota.
O superintendente da Polícia Federal em Tocantins, Arcelino Vieira Damasceno, disse em entrevista coletiva transmitida via internet que a Minerva, uma das maiores empresas de produção e comercialização de carne in natura do país, está entre as empresas suspeitas de irregularidades.
Outras companhias suspeitas de envolvimento no esquema investigado pela PF são Frango Norte, Laticínio Veneza, Santa Izabel Alimentos, Masterboi, Laticínio Fortaleza e Laticínios Palac, acrescentou Damasceno.
Em nota, a Minerva afirmou que está colaborando com a investigação envolvendo servidores do Ministério da Agricultura e segue rígidas normas de governança corporativa e cumpre toda a legislação aplicável em suas operações.
As ações da Minerva fecharam em baixa de 2,09 por cento nesta terça, enquanto o Ibovespa fechou em alta de 0,31 por cento.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que está em missão oficial na Arábia Saudita, afirmou em sua conta no Twitter que os servidores envolvidos serão afastados imediatamente das funções e serão alvos de auditoria que poderá terminar em exoneração.
"Já sabíamos que outros casos viriam à tona. Após a Operação Carne Fraca aumentamos o rigor nas apurações internas", escreveu ministro.
Não foi possível fazer contato de imediato com as outras empresas citadas pela PF.
A Polícia Federal também cumpriu mandados judiciais em diversos municípios de Santa Catarina como parte de uma outra operação, batizada de Fugu, envolvendo o Ministério da Agricultura, esta voltada para o setor de pescados da região do Vale (SA:VALE5) do Itajaí.
As investigações apuram evidências relacionadas à proteção ilícita de empresas do ramo alimentício, bem como de perseguição a servidores com atuação na área de fiscalização mediante instauração de procedimentos disciplinares e remoções infundadas, de acordo com a PF.
A Justiça determinou o afastamento de ocupantes de cargos de direção e gestão na unidade do Ministério da Agricultura em Santa Catarina.
Segundo as investigações, as empresas suspeitas de envolvimento no esquema introduziam no mercado pescados importados da China adulterados quimicamente, que não passavam pela fiscalização adequada.
Em nota assinada pelo ministro da Agricultura em exercício, Eumar Novacki, o ministério afirmou que apoia a Polícia Federal e colabora com as investigações. Sobre a operação Fugu que o trabalho técnico durante os nove meses de investigação foi realizado com a participação de técnicos da pasta.
Em março, a Polícia Federal revelou um outro esquema de corrupção envolvendo o Ministério da Agricultura e frigoríficos, por meio da operação Carne Fraca. As investigações apontaram para a existência de um esquema de fornecimento de produtos alimentícios alterados ou adulterados com a participação de empresários e fiscais do ministério.
(Por Pedro Fonseca, no Rio de Janeiro; Reportagem adicional de Alberto Alerigi Jr., em São Paulo; Edição de Maria Pia Palermo)
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