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PF usa troca de mensagens para indiciar Abílio Diniz e Pedro Faria em operação Trapaça

Publicado 15.10.2018, 21:01
© Reuters. Executivo e empresário Abilio Diniz durante evento no Palácio do Planalto, em Brasília
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Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - No relatório final da operação Trapaça entregue nesta segunda-feira à Justiça Federal, a Polícia Federal usou a troca de mensagens por meio do aplicativo WhatsApp e acesso a emails para indiciar o empresário Abílio Diniz e o ex-presidente da empresa de alimentos BRF (SA:BRFS3) Pedro de Andrade Faria.

Os executivos são suspeitos de terem cometido crimes de estelionato, contra a saúde pública, falsidade ideológica e organização criminosa, de acordo com o documento obtido pela Reuters. Ao todo, foram 43 indiciados na operação. Caberá ao Ministério Público Federal decidir se oferece denúncia com base nas conclusões da polícia, se pede novas diligências ou se arquiva a apuração, por não considerar haver provas para fazer uma acusação criminal contra os citados.

No relatório de 404 páginas, o delegado da PF Maurício Moscardi Grillo afirma que a análise de arquivos durante a investigação, como conversas por mensagens de emails e WhatsApp, "concluiu-se a prática das condutas delitivas não se restringia ao círculo das equipes técnica e gerencial das fábricas da BRF".

"Há, de fato, a participação do corpo diretivo da empresa na trama investigada, o qual tinha ciência de seu modus operandi, e que, não somente se omitiu em relação a fazer cessá-lo, mas, também, participou comissivamente dos atos de ocultação das fraudes, norteando sua execução", diz o relatório.

"Destaca-se a participação ativa, em caso envolvendo a detecção de resíduo tóxico em carne de frango pelas autoridades chinesas (Dioxina), de Pedro de Andrade Faria (à época diretor-presidente global do grupo BRF), Abílio dos Santos Diniz (à época Presidente do Conselho da BRF) e José Carlos Reis de Magalhães Neto, sócio da Tarpon (SA:TRPN3) Investimentos", segundo o relatório.

A operação Trapaça foi desencadeada pela PF em 5 de março de 2018, levando a prisão, na época, de Pedro Faria.

Em um dos casos citados no relatório, a PF relata uma conversa por WhatsApp entre Pedro Faria, Abílio Diniz e José Carlos Reis de Magalhães Neto, sócio da Tarpon, de 12 de dezembro de 2014.

Entre as mensagens citadas no relatório da PF, consta comunicação de Abilio com Faria e Magalhães Neto em que o executivo afirma que "Não estou a par mas enquanto pudermos não alimentar mais é melhor. Mas temos ótimos assessores confio neles."

Para a PF, o contexto das conversas indica o conhecimento dos principais executivos da BRF sobre os problemas.

"Abílio Diniz e Pedro Faria, pela posição hierárquica que ostentavam no quadro corporativo do grupo, possuíam plena capacidade de orientar os círculos sob sua subordinação a tomar as medidas técnicas e eficazes, em âmbito sanitário, para que se determinasse a causa-raiz da contaminação química dos produtos destinados ao consumo e a regularização do processo industrial."

O delegado anota que, contudo, o que ocorreu na conversa foi a "lamentação" dos executivos do vazamento da informação, a interlocução com a então ministra da Agricultura, a senadora Kátia Abreu (PDT-TO), e a tomada de medidas com o objetivo de "abafar" a disseminação de fatos descritos em matéria veiculada na imprensa nacional.

Abílio Diniz foi presidente do conselho de administração da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, e desde 2016 é membro do conselho de administração do grupo Carrefour (SA:CRFB3).Em nota, a BRF afirmou que afastou preventivamente os funcionários citados no relatório da Polícia Federal "até o esclarecimento dos fatos" e que vem mantendo conversas com as autoridades encarregadas das investigações, para "colaborar com o esclarecimento dos fatos".

© Reuters. Executivo e empresário Abilio Diniz durante evento no Palácio do Planalto, em Brasília

Tarpon, Magalhães Neto e Carrefour não comentaram o assunto. Procurada, a Península Participações, responsável pelos investimentos de Diniz, afirmou que o empresário "não cometeu nenhuma irregularidade como presidente do conselho de administração da BRF". Segundo a Península, "não existem elementos que demonstrem irregularidades cometidas por Abilio Diniz".

(Com reportagem adicional de Gabriela Mello)

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