RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente do PT, Rui Falcão, apontou nesta sexta-feira a existência de uma tentativa de "impeachment preventivo" contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para impedí-lo de ser novamente candidato à Presidência em 2018.
Falcão criticou a forma como vêm sendo feitas as investigações da operação Lava Jato e declarou que o país vive um estado de exceção dentro do Estado democrático de direito.
“Vivemos um momento que há muitos fenômenos estranhos e um estado de exceção do Estado democrático de direito. Invasão de escritório, abolição do habeas corpus, seletividade das informações“, disse ele a jornalistas após participar do encontro do Diretório Nacional do PT, no Rio de Janeiro.
"O que se faz hoje é um combate seletivo (à corrupção) e com uma cortina de fumaça. O que se faz é um impeachment preventivo e cautelar por parte daqueles que estão temendo a candidatura do Lula em 2018, embora isso não esteja definido. Tem que quebrar o clima de intolerância e ódio”, disse.
Lula é suspeito de ser o proprietário de um sítio em Atibaia e ter sido o dono de um apartamento tríplex no Guarujá que teriam sido reformados por empreiteiras. O ex-presidente afirma que não é e nem foi dono dos imóveis e nega quaisquer irregularidades.
Falcão também comentou a prisão do publicitário João Santana, marqueteiro das três últimas campanhas de candidatos do PT à Presidência, e da mulher dele, Mônica Moura, na 23ª fase da Lava Jato, sob acusação de terem recebido pagamentos ilegais milionários no exterior provenientes do esquema de corrupção na Petrobras (SA:PETR4) pelos serviços prestados às campanhas do PT no Brasil.
O dirigente petista voltou a negar irregularidades nas campanhas petistas.
“É preciso saber o que é a investigação... Todas as operações financeiras do partido foram feitas dentro das normas vigentes da época... são operações legais e declaradas à Justiça Eleitoral. As investigações precisam ser descortinadas com cuidado”, disse.
Falcão anunciou, ainda, a criação de uma comissão interna do partido para investigar e dar amplo direito de defesa ao senador Delcídio do Amaral (PT-MS), que teve a filiação suspensa após ser preso em novembro acusado de obstruir as investigações da Lava Jato. O parlamentar, que foi solto na semana passada, pediu licença médica por 15 dias do Senado.
PROPOSTAS
Como previsto, o diretório do PT apresentou 22 propostas que serão debatidas com os diretórios regionais e as sugestões também serão encaminhadas à presidente Dilma Rousseff e ao governo. A maioria das sugestões vão contra as medidas de ajuste fiscal propostas pelo governo em meio à tentativa de reequilibrar as contas públicas.
Entre as propostas petistas, que fazem parte do chamado Plano Nacional de Emergência, estão a “forte redução da taxa de juros”, o uso das reservas internacionais para um fundo nacional do desenvolvimento e do emprego e o reajuste de 20 por cento do Bolsa Família.
A recriação da CPMF, defendida pelo Palácio do Planalto como uma das medidas econômicas mais importante para reequilibrar as contas e abrir caminho para a retomada do crescimento, também é defendida no documento do PT.
Segundo Falcão, as propostas foram inspiradas em medidas adotadas por Lula para enfrentar a crise econômica global de 2008.
“Defendemos o núcleo das propostas do presidente Lula, guardadas as diferenças. Emprego, valorização salarial, crédito, valorização do mercado interno. Acho que é possível realizar essas premissas hoje”, disse.
Também presente no encontro do partido, o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, negou que as propostas a serem discutidas com os diretórios representem uma divergência do PT com o governo.
“A grande riqueza do PT é a diversidade. Nós estamos no governo, mas ninguém cala o PT”, disse a jornalistas. "Nem o governo interdita o debate no PT, nem o PT interdita o PT."
Sobre a possibilidade de Dilma não comparecer à festa de comemoração do aniversário de 36 anos do PT, marcada para sábado também no Rio, Falcão disse que a ida da presidente à celebração não está totalmente descartada e lembrou que ela jamais deixou de comparecer a um evento do partido.
Dilma está em viagem internacional ao Chile e uma alteração em sua agenda no país sul-americano incluiu compromissos na tarde de sábado, gerando dúvidas sobre seu comparecimento na festa de aniversário de seu partido.
Uma fonte reconheceu à Reuters que há desgaste na relação da presidente com seu partido. De um lado, Dilma está irritada com a falta de apoio do PT a seu governo, e, de outro, petistas afirmam ser impossível apoiar medidas defendidas pelo Planalto que afastam boa parte da base social do partido. [nL2N16525D]
(Reportagem de Rodrigo Viga Gaier; Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu, em Brasília; Edição de Eduardo Simões)