O diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), Rodolfo Henrique de Saboia, disse nesta 3ª feira (3.out.2023) que o Brasil é “numericamente” autossuficiente em gás natural.
Em participação na Comissão de Infraestrutura do Senado, Saboia declarou que, em números absolutos, o país é capaz de ofertar o produto acima da demanda, mas a falta de infraestrutura existente para o escoamento do insumo impede que o gás chegue aos consumidores.
Segundo ele, outro fator que está associado a essa discrepância e também à falta de gasodutos é a opção das petroleiras em reinjetar o gás associado ao petróleo nos poços para aumentar a produtividade do óleo nesses ativos.
Saboia destacou que a decisão de reinjetar o gás faz parte da estratégia comercial de cada empresa, mas que a ausência de infraestrutura estimula essa opção.
“Existem condições de funcionamento desse mercado que fazem com que a gente tenha nuances como essa. A gente tem [gás natural], mas o produtor reinjeta porque produz mais petróleo”, disse Saboia.
Em relação à necessidade de construção de gasodutos, Saboia disse que a ANP não tem ingerência sobre o tema e que cabe ao governo articular políticas públicas que encorajem os agentes do mercado a investir nesse setor.
“É algo que eles decidem em função das oportunidades. A gente está enxergando um mercado em crescimento e tende a ter mais oportunidades para os agentes se interessarem no desenvolvimento dessa infraestrutura para escoamento do gás natural”, declarou.
“Se o mercado identificar que existe essa demanda, eles vão fazer esses investimentos.”
Disputa sobre a reinjeção
Em junho, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o presidente da Petrobras (BVMF:PETR4), Jean Paul Prates, protagonizaram um embate sobre a política de reinjeção do gás associado ao petróleo nos poços da estatal.
Silveira defendia que o gás reinjetado deveria ser ofertado imediatamente para a indústria, que tem insistido em uma oferta maior do produto a preços competitivos para destravar investimentos.
Por outro lado, Prates afirmava que não havia gás sobrando e que a prática era essencial para manter os níveis de produção do petróleo, um ativo mais atraente economicamente para a empresa.
Os ânimos dessa disputa esfriaram nos últimos meses, mas Silveira permanece focado na articulação de um programa federal chamado “Gás para Empregar”. O projeto está na fase de estudos em grupos de trabalho setoriais para avaliar a melhor modelagem da medida. Ainda não há uma previsão para o seu lançamento.
Apesar das farpas trocadas, o presidente da Petrobras não é contrário à ideia de aumentar a oferta de gás para a indústria, mas prega que esse processo não pode ser feito às pressas.
A estatal já tem 3 projetos de investimento na infraestrutura de escoamento do produto e estuda expandir ainda mais esse número para garantir o suprimento ao setor industrial. Veja abaixo os projetos:
- Rota 3: gasoduto com 355 km de extensão total que escoará o gás natural do pré-sal da Bacia de Santos até o Polo Gaslub Itaboraí, antigo Comperj (Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro);
- Seap (Projeto Sergipe Águas Profundas): exploração de campos de gás localizados na Bacia de Sergipe-Alagoas e construção de gasoduto para escoar a produção;
- Bloco BM-C-33: construção de gasodutos para escoamento do gás do bloco localizado na Bacia de Campos para o Polo GasLub e a usina de Cabiúnas.
Dos projetos, o Rota 3 tem previsão para entrar em operação em 2024, mas os outros 2 só devem ser concretizados em 2027. Portanto, o setor industrial ainda encara um horizonte de 4 anos sem um aumento expressivo do produto no mercado.