PF investigará ligação de bebida adulterada em SP com crime organizado; Tarcísio diz que não há indícios

Publicado 30.09.2025, 13:40
Atualizado 30.09.2025, 21:42
© Reuters.

Por Eduardo Simões

SÃO PAULO (Reuters) - A Polícia Federal abriu inquérito para apurar eventual ligação de episódios recentes de intoxicação por metanol após consumo de bebida alcoólica adulterada em São Paulo com o crime organizado, anunciaram nesta terça-feira o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, e o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, mas o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) negou a existência de indícios neste sentido.

"Nós determinamos ao doutor Andrei Rodrigues, que é o diretor-geral da nossa Polícia Federal, que abrisse um inquérito policial para verificar a procedência dessa droga e a rede possível de distribuição, que, ao que tudo indica, transcende os limites de um único Estado", disse Lewandowski em entrevista coletiva em Brasília.

Rodrigues explicou que a PF entrou no caso devido a indícios de que a distribuição da bebida adulterada transcende o território paulista e à possibilidade de ligação com o esquema desvendado pela PF de importação de metanol pelo crime organizado para um esquema de adulteração de combustíveis.

"Dentre as razões (para instalação de inquérito pela PF), há a questão da interestadualidade e a possível conexão com investigações recentes, especialmente no Estado do Paraná que se conectou com outras duas em São Paulo em razão de toda a cadeia de combustíveis, onde parte disso passa pela importação de metanol pelo Porto de Paranaguá", disse Rodrigues.

"A investigação dirá se há conexão com o crime organizado, com operações anteriores. A gente vai buscar trabalhar de forma integrada", acrescentou ele, citando atuação em conjunto com autoridades paulistas.

Pouco depois, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado de São Paulo, Tarcísio afirmou que não há indícios de participação do crime organizado e ironizou ao afirmar que "agora tem esse negócio em São Paulo, tudo o que acontece é PCC", referindo-se à facção criminosa Primeiro Comando da Capital.

"Tem se especulado sobre a participação do crime organizado nessa adulteração de bebida. Só para deixar claro: não há evidência nenhuma de participação do crime organizado nisso", assegurou o governador.

"Os inquéritos que estão abertos e que estão chegando nas pessoas que estão trabalhando com adulteração, nessas destilarias clandestinas, são pessoas que não têm relação com o crime organizado e não têm relação entre si."

O governador disse ainda que a adulteração de bebidas é um "problema estrutural" do Brasil, que autoridades paulistas apreenderam nos últimos dias 50 mil garrafas de bebidas com suspeita de adulteração e que foi criado um gabinete de crise no governo estadual sobre o tema.

Segundo o governo estadual, até o momento foram confirmados sete casos de intoxicação por metanol e há 15 casos suspeitos sob análise. Foi confirmada também uma morte em decorrência da intoxicação e outros quatro óbitos estão sob investigação.

As vigilâncias sanitárias do Estado de São Paulo e da capital paulista, em conjunto com a Polícia Civil de SP, interditaram totalmente dois estabelecimentos na cidade após "registro de casos suspeitos de intoxicação por metanol em bebidas adulteradas", disse o governo estadual em nota.

Ainda segundo o governo do Estado, um terceiro bar foi interditado em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, acrescentando que as ações são "cautelares" e que o envolvimento dos estabelecimentos com os casos ainda está sendo investigado.

Uma megaoperação de várias agências de cumprimento da lei sobre o uso de postos de combustíveis para lavar dinheiro da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) revelou, no final de agosto, um esquema criminoso que importava metanol, um solvente extremamente tóxico, pelo porto de Paranaguá (PR), mas os destinatários do produto não eram os que constavam nas notas fiscais. O metanol era transportado a postos onde era usado na adulteração do combustível vendido aos consumidores.

Tarcísio é aliado e afilhado político do ex-presidente Jair Bolsonaro, e portanto adversário político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governador é apontado como possível candidato à Presidência no ano que vem, quando Lula deve buscar a reeleição, visto que Bolsonaro está inelegível devido a duas decisões do Tribunal Superior Eleitoral e foi recentemente condenado a mais de 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.

CASOS ATÍPICOS

Também presente na coletiva em Brasília, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que, somente em agosto e setembro deste ano, o número de intoxicações por metanol superou a média do que é registrado em um ano.

O ministro disse ainda que, geralmente, esses casos se referem a pessoas em situação de rua que ingerem o metanol e pessoas que tentam suicídio intoxicando-se com o produto. A intoxicação por consumo de bebida adulterada é incomum e chamou a atenção das autoridades, assim como a concentração dos casos em um único Estado, afirmou.

O ministro alertou ainda que a pessoa que apresentar sintomas de intoxicação por metanol após consumo de bebida alcoólica de origem desconhecida deve procurar imediatamente os serviços de saúde. Entre os sintomas que diferenciam a intoxicação por metanol daquela causada pelo consumo excessivo de bebida alcoólica está a dor abdominal, acrescentou o ministro, que também é médico.

"Quem teve essa história de ingestão de bebida alcoólica, sobretudo se você não conhece a origem dela, à medida que aparecerem os sintomas procure o serviço de saúde, não vá fazer qualquer medida por conta própria", disse.

(Por Eduardo Simões, em São Paulo; reportagem adicional de Fernando Cardoso)

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