O Incaa (“Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales”, agência do governo da Argentina que promove a indústria cinematográfica) exibiu no 38º Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata um vídeo com trechos de filmes argentinos mostrando a excelência da produção nacional.
A peça é vista como uma resposta a uma promessa da campanha de Javier Milei, candidato à Presidência da Argentina no 2º turno das eleições, marcado para 19 de novembro. Em agosto, Ramiro Marra, que disputou o governo de Buenos Aires pela coligação de Milei, disse que o candidato fecharia o Incaa se for eleito.
O vídeo divulgado pelo INCAA é narrado pelo ator argentino Ricardo Darín. Ao longo de pouco mais de 2 minutos são apresentadas imagens de filmes argentinos produzidos nos últimos 40 anos de democracia no país. “Aqui nos reinventamos, crescemos”, diz o ator. “Aqui há crises, aqui não é fácil. É com criatividade, com picardia, com tudo”, acrescenta. “Por isso, fazemos barulho. Por isso, nunca passamos despercebidos”, afirma.
Darín cita que a Argentina já venceu premiações, entre elas o Oscar, e teve reconhecimento mundial. “As vitórias chegam e, quando chegam, não nos esquecemos. Temos memória”, diz o ator. “Não é apenas cinema, é cinema argentino”, completa.
O vídeo termina com um trecho do filme “Argentina, 1985”, estrelado por Darín. O ator interpreta o promotor Julio Strassera, que trabalhou pela condenação dos líderes da ditadura militar argentina. Na cena exibida pelo Incaa, o personagem de Darín diz: “Senhores juízes, nunca mais”.
Assista (2min18s):
MASSA RECEBE APOIO NO EVENTO
Adversário de Milei no 2º turno, o ministro da Economia, Sergio Massa, esteve presente na abertura festival de cinema. Ele afirmou ser “muito importante” participar de um evento que celebra “um dos pilares da construção da identidade cultural argentina: a indústria cinematográfica”.
Segundo ele, “na era das comunicações”, um fato “cobre o outro e perde-se profundidade na construção do sentido”. Por isso, o cinema argentino serve para o país “defender” sua identidade e mostrar ao mundo “a beleza, o talento e a diversidade” da Argentina.
“Quando ouço esta ideia de riscar a cultura, o que ouço é o reflexo dessa pregação permanente de que somos um país de merda. E não somos. Se há algo que somos, é um grande país”, disse Massa.
Durante o festival, a organização Cinema Unido Argentino organizou um evento em que declarou apoio a Massa no 2º turno das eleições presidenciais.
“Acreditamos que as declarações do partido de extrema-direita que hoje concorre à Presidência colocam em risco a convivência democrática e os princípios da nossa Constituição Nacional e, por isso, como coletivo decidimos nos manifestar a favor de Sergio Massa nas próximas eleições”, escreveu a organização no Instagram.
“Continuamos unidos na defesa dos fundos públicos para promover o Incaa e confiamos em alcançar a sua expansão com a contribuição das plataformas, entre outras políticas públicas, que estão focadas na redução das desigualdades em todo o território, essenciais para garantir o acesso à cultura e um futuro do cinema federal e diversificado”, completou.
Pesquisas de 2º turno
A duas semanas do 2º turno da eleição para a Presidência da Argentina, 5 pesquisas de intenção de voto indicam um cenário indefinido para o pleito de 19 de novembro.
O ministro da Economia, Sergio Massa (da coalizão de esquerda Unión por la Pátria), lidera em 2 levantamentos. Há empate técnico com o candidato de direita, Javier Milei (La Liberdad Avanza), em 3 outras pesquisas. Massa ficou à frente no 1º turno de 22 de outubro, com 36,68% dos votos válidos, contra 29,98% de Milei.
Cenário Econômico
A Argentina é a 2ª maior economia da América do Sul e a 22ª no mundo, com o PIB (Produto Interno Bruto) de US$ 632,77 bilhões, segundo dados de 2022 do Banco Mundial. O país é ainda o 3º maior parceiro comercial dos brasileiros. O Brasil exportou US$ 15,34 bilhões e importou US$ 13,10 bilhões do país vizinho no ano passado, com saldo de US$ 2,24 bilhões.
Em setembro, a inflação anual argentina avançou para 138,3% e registrou a taxa mensal de 12,7%, a mais alta do país em 21 anos.
Já a taxa de juros, a Leliq, foi elevada pelo BCRA (Banco Central da República da Argentina) para 133% em outubro, em uma tentativa de reforçar o incentivo à poupança em pesos e controlar a alta dos preços.
As reservas de dólares do país também estão em baixa. Até 31 de agosto, o BC argentino tinha US$ 28 bilhões. O presidente Alberto Fernández começou 2023 com US$ 44,6 bilhões em reservas. Na série histórica, desde 2011, o BCRA atingiu a máxima de reservas da moeda norte-americana em 2019, com US$ 77,4 bilhões em caixa. À época, o país era governado por Mauricio Macri.
O índice de pobreza no país atingiu 40,1% no 1º semestre de 2023. No mesmo período do ano passado, estava em 36,5%. O aumento de 3,6 pontos percentuais representa um crescimento previsto de 1,7 milhão de pessoas pobres em todo o país.
Esses 40,1% são a média dos índices do 1º trimestre (38,7%) e do 2º trimestre (41,5%). Os dados constam em relatório (PDF – 893 kB, em espanhol) do Indec (sigla para Instituto Nacional de Estatística e Censos) sobre o rendimento dos argentinos, divulgado em 21 de setembro. Considerando a margem de erro, o nível de pobreza do 2º trimestre no país pode variar de 40% a 43%.
Os dados contemplam 31 aglomerações urbanas, que totalizam 29 milhões de pessoas. Se as percentagens forem estendidas a toda a população (46,2 milhões), incluindo a rural, equivaleria a quase 18,5 milhões de pessoas pobres.
O Indec diz que 62,4% da população argentina recebeu alguma renda no 1º semestre de 2023. A média no 2º trimestre foi de 138,5 mil pesos argentinos (RS 1.954 na cotação atual).