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ANÁLISE-Bolsa brasileira interessa a estrangeiro, mas governo precisa mostrar serviço

Publicado 11.01.2019, 18:36
Atualizado 11.01.2019, 18:40
© Reuters. Presidente Jair Bolsonaro participa de cerimônia de troca de comando do Exército, em Brasília
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Por Paula Arend Laier

SÃO PAULO (Reuters) - Uma famosa citação do bilionário Warren Buffett, de que é muito melhor comprar uma empresa maravilhosa por um preço justo do que uma empresa justa por um preço maravilhoso, pode ajudar a explicar o comportamento de investidores estrangeiros em relação às ações brasileiras neste começo de ano.

A bolsa brasileira começou 2019 com o Ibovespa renovando máximas históricas, mas o capital externo, que responde por quase metade das operações de compra e venda e será essencial para a continuidade do rali, ainda se mostra hesitante, aparentemente aguardando um quadro mais claro sobre o avanço de reformas no país, mesmo que isso tenha um preço.

O presidente Jair Bolsonaro tomou posse em 1º de janeiro e sua equipe adotou um discurso liberal para a economia, prometendo principalmente medidas fiscais, o que agradou o mercado de forma geral, mas em particular fundos locais, que têm sido determinantes para o rali nos últimos dias.

Índice de referência do mercado acionário do Brasil, o Ibovespa renovou seis vezes a máxima histórica desde o começo do ano, acumulando nas duas primeiras semanas alta de 6,7 por cento até a quinta-feira.

As operações de investidores estrangeiros no segmento Bovespa, contudo, mostram saída líquida de 1,1 bilhão de reais no acumulado do ano até 9 de janeiro, mas sem uma tendência única durante os pregões, conforme dados da B3. Em 2018, o resultado ficou negativo no ano em 11,5 bilhões de reais.

Números da EPFR Global por sua vez, que consideram também alocação em fundos de ações brasileiras no exterior, recibos de ações em bolsas externas e ETFs (fundo de índices negociado em bolsa), mostram saldo líquido positivo de 410 milhões de dólares no acumulado do ano.

Neste ambiente, Daniel Gewehr, chefe de estratégia em renda variável para América Latina no Santander Brasil (SA:SANB11) em São Paulo, está na expectativa de evento do banco no próximo mês em Cancún, no México, que prevê a participação de cerca de 300 investidores internacionais, para reexaminar o sentimento dos investidores sobre o Brasil.

No final do ano passado, ele se encontrou com cerca de 50 gestores nos Estados Unidos, que demonstraram cautela com o Brasil, preferindo esperar algo de concreto no novo governo, principalmente em relação à reforma da Previdência.

"Eles não esperam necessariamente a aprovação dessa reforma no curto prazo, mas um 'momentum' de execução positivo, que poderia vir com a aprovação da revisão do contrato de cessão onerosa, racionalização de ativos estatais ou até da proposta de independência do Banco Central, e que culminaria na aprovação da reforma da Previdência", disse Gewehr.

Investidores veem a mudança no regime atual de Previdência do país como crucial para a melhora da situação fiscal brasileira, a fim de estabilizar o comportamento da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), que alcançava 77 por cento em novembro, o dado mais recente disponível.

Uma melhora nessa quadro teria efeito de queda na curva longa de juros do país, que é vista como uma das principais métricas para o investimento em ações.

Para Jorge Mariscal, diretor de investimentos em mercados emergentes da UBS Wealth Management, em Nova York, a bolsa brasileira foi um dos melhores do mercado no ano passado e muito otimismo foi precificado, então reduzir alguma exposição é algo prudente a se fazer.

Ele, contudo, afirma esperar um retorno do fluxo de recursos para as ações brasileiras se a reforma da Previdência for aprovada. "Há alguns obstáculos políticos para aprovar uma reforma previdenciária, mas a dinâmica positiva está aumentando", afirmou.

Em meados de novembro, estrategistas do BTG Pactual (SA:BPAC11) estimaram uma entrada potencial de 251 bilhões de reais em ações brasileiras se as alocações dos fundos globais e daqueles voltados para mercados emergentes globais (GEM, na sigla em inglês) voltassem ao patamar de outubro de 2014.

O gestor Pablo Riveroll, chefe de renda variável para América Latina na Schroders (LON:SDR), em Londres, afirma que está 'overweight' em Brasil e que tem comprado Brasil nos últimos meses.

"O Brasil é um dos mercados mais atraentes em relação ao restante dos mercados emergentes; tem uma recuperação doméstica cíclica que é relativamente independente do crescimento global e achamos que os preços (valuations) ainda são atraentes apesar do bom desempenho do mercado", afirmou.

Das 66 ações que compõem o Ibovespa, cerca de nove apenas apresentam desempenho negativo no acumulado do ano até esta sexta-feira.

© Reuters. Presidente Jair Bolsonaro participa de cerimônia de troca de comando do Exército, em Brasília

Chris Dhanraj, chefe de estratégia de investimentos em iShares nos EUA da BlackRock, em Nova York, afirma que o crescimento acelerado e o excesso de capacidade produtiva do Brasil são uma combinação poderosa para a expansão dos lucros, com analistas estimando uma alta de 20 por cento em 2019.

"Investidores também esperam mais retornos do Brasil se o presidente Bolsonaro puder implementar mais reformas econômicas, que incluem privatizações, previdência social, tributária e liberalização do comércio.

Para o operador Alexandre Soares, da filial brasileira da norte-americana BGC Partners, apesar do fluxo via ETFs, os estrangeiros podem estar com uma postura um pouco "São Tomé", de precisar ver para crer, e assim aumentar de forma relevante a exposição a ações brasileiras.

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