Por Ernest Scheyder e Clara Denina
(Reuters) - A compra da Arcadium pela Rio Tinto (LON:RIO) por 6,7 bilhões de dólares dará à empresa um conjunto de tecnologias de filtragem de lítio que está pronto para revolucionar a forma como o metal usado em baterias é produzido.
A experiência da Arcadium na chamada extração direta de lítio (DLE, na sigla em inglês) é o verdadeiro prêmio para a Rio Tinto, segundo analistas, e coloca a empresa na disputa com Eramet, Sunresin, Exxon Mobil (NYSE:XOM) e outras que pretendem tornar a tecnologia comum nos próximos anos.
O mercado espera que o setor de DLE cresça para mais de 10 bilhões de dólares em receita anual na próxima década, fornecendo lítio para baterias de veículos elétricos em horas ou dias, e não em meses ou mais, como ocorre atualmente com o método que usa grandes lagoas de evaporação e minas a céu aberto que consomem muita água.
Embora as tecnologias de DLE variem, elas são comparáveis aos filtros de água domésticos comuns e têm como objetivo extrair cerca de 90% ou mais do lítio das salmouras, em comparação com cerca de 50% usando lagoas.
Ninguém lançou uma operação comercial de DLE sem lagoas, embora várias empresas estejam correndo para serem as primeiras.
A Arcadium, por meio de uma empresa predecessora, foi a primeira a desenvolver uma versão inicial de uma tecnologia DLE na década de 1990 em um local de salmoura de lítio na Argentina que ainda está em operação.
Embora esse local use lagoas em conjunto com DLE, a experiência de décadas da Arcadium com a tecnologia a torna um prêmio tentador para a Rio Tinto, pois ela pretende desenvolver depósitos de lítio no Chile, onde as autoridades estão eliminando as lagoas e exigindo o uso da tecnologia DLE.
"Ele (DLE) é, na verdade, a solução para fornecer o lítio de que o mundo precisa", disse o presidente-executivo da Rio Tinto, Jakob Stausholm, a investidores na quarta-feira, após anunciar o acordo com a Arcadium. O negócio avaliou a Arcadium com um prêmio de 90% em relação ao preço de suas ações antes da Reuters publicar que as empresas estavam em negociações na última sexta-feira.
As operações de DLE da Arcadium na Argentina estão localizadas perto de um projeto de DLE pelo qual a Rio Tinto pagou 825 milhões de dólares em 2022, embora esse projeto ainda não tenha produzido lítio. Os engenheiros da Arcadium já se reuniram com a equipe de DLE da Rio, disse Stausholm.
"Há muita coisa pela frente e ainda não as exploramos totalmente, mas é a tecnologia certa", disse.
Embora a Rio Tinto seja líder há muito tempo em mineração de rochas duras, ela tem muito menos experiência em processamento químico, que é o cerne da produção de lítio.
A tecnologia DLE, por exemplo, é apenas uma parte de um processo complexo que pode envolver mais de 20 etapas, incluindo pré-tratamento de salmoura de lítio e cristalização.
Cada depósito de salmoura também pode ter diferentes composições químicas -- incluindo vários níveis de cálcio, magnésio e outros metais -- que devem ser cuidadosamente analisados. Todas essas etapas foram estudadas em profundidade durante anos pela Arcadium.
"A chave para desbloquear a implementação inicial da DLE tende a ser esse know-how mais a infraestrutura", disse o presidente-executivo da Arcadium, Paul Graves, a investidores na quarta-feira. "Mas, uma vez desbloqueado, ele pode ser replicado com uma rapidez incrível."
A Arcadium, por meio de uma empresa predecessora, também detém uma participação em uma subsidiária da EnergySource Minerals, uma desenvolvedora de DLE que licencia tecnologia de lítio para a SLB e outras. Quando esse investimento foi anunciado em dezembro passado, os executivos disseram que a produção comercial poderia começar em 2025.
Samuel Moore, presidente-executivo da ILiAD Technologies, subsidiária da EnergySource, disse em um comunicado que sua empresa tem desfrutado de uma "forte relação de trabalho com a Arcadium" e espera trabalhar com a Rio Tinto.
"A Rio Tinto está pagando um prêmio pela Arcadium em parte por sua propriedade intelectual em torno da tecnologia DLE", disse Chris Berry, um consultor independente do setor de lítio.
RIVAIS
A tentativa da Rio Tinto de tornar a DLE popular enfrentará intensa concorrência, inclusive de algumas das pessoas que ajudaram a tornar a Arcadium líder na área.
O local explorado pela Arcadium na Argentina, por exemplo, foi desenvolvido por um cientista que agora é presidente da International Battery Metals, que criou uma instalação modular de DLE que Exxon, Chevron (NYSE:CVX) e outras empresas consideraram licenciar.
A Albemarle, a maior produtora de lítio do mundo, também está testando a DLE no Estado norte-americano do Arkansas, perto de suas operações de bromo, e no Chile. A SQM, que tem sede em Santiago, fez acordo este ano com o governo chileno para aumentar produção em parte devido à DLE.
Vulcan Energy, EnergyX, Standard Lithium e outras companhias também estão desenvolvendo suas próprias versões de tecnologias DLE.