O Ibovespa conseguiu operar em boa parte do dia acima da marca d'água, evitando então realização de lucros e estendendo a série de ganhos pelo que seria a nona sessão, sequência não vista desde o intervalo entre 14 e 26 de fevereiro de 2018, de acordo com o AE Dados. Hoje, oscilou entre mínima de 108.085,20, do fim da tarde, e máxima de 110.151,03 pontos, pico intradia desde 16 de fevereiro, saindo de abertura aos 109.029,12 pontos. O giro financeiro foi a R$ 28,1 bilhões nesta terça-feira. Na semana, o índice da B3 (BVMF:B3SA3) passa ao negativo (-0,25%) e, no mês, avança 3,60% - no ano, a perda acumulada está em 1,40%. No fim do dia, marcava nesta terça-feira baixa de 0,77%, aos 108.193,68 pontos.
Petrobras (BVMF:PETR4) (ON +2,24%, PN +2,49%) foi a surpresa positiva da sessão entre as ações de maior peso e liquidez na B3, com a reação favorável do mercado à mudança na política de precificação dos combustíveis. Apesar da quebra de frequência em relação à referência externa, o desdobramento foi interpretado pelo lado positivo, de que contribuirá para a redução da volatilidade nos preços domésticos. "O mercado talvez estivesse se preparando para receber algo pior do que veio", diz Rodrigo Jolig, co-CEO e diretor de investimentos da Alphatree Capital, acrescentando que, depois de uma série tão extensa de ganhos para o Ibovespa, o índice passou hoje por uma acomodação, realizando lucros.
Na ponta do índice da B3, além das duas ações de Petrobras, destaque também para Hapvida (BVMF:HAPV3) (+8,25%) - com balanço trimestral -, Rede D'Or (BVMF:RDOR3) (+6,72%) e Raízen (BVMF:RAIZ4) (+3,18%). No lado oposto, Magazine Luiza (BVMF:MGLU3) (-22,83%), após balanço trimestral pior do que o esperado, com prejuízo líquido de R$ 391 milhões entre janeiro e março, à frente de BRF (BVMF:BRFS3) (-9,17%) e 3R Petroleum (BVMF:RRRP3) (-7,53%) na sessão. Entre as blue chips, o dia foi ruim para os grandes bancos, em especial BB (BVMF:BBAS3) (ON -2,88%), e para o setor metálico (Vale ON (BVMF:VALE3) -2,06%, Gerdau (BVMF:GGBR4) PN -2,67%).
"A mudança na política de preços da Petrobras já era algo dado, mas não se sabia qual seria o novo modelo a ser adotado. Já se sabia do abandono da política de paridade internacional. O que se propõe agora é que a Petrobras seja competitiva, mas, ao mesmo tempo, que os preços sejam bons para os compradores, os refinadores e distribuidores de combustíveis. A queda para os preços pode não ser tão relevante, porque não há um abandono do preço externo, mas sim uma abordagem mais subjetiva, que pretende ser criteriosa para a formação de preços ainda que sem frequência específica, evitando altas repentinas como no início da guerra Rússia-Ucrânia", diz Paulo Luives, economista da Valor Investimentos.
"Há espaço no preço do petróleo que favorece esse corte de preços dos combustíveis no Brasil, em conjunto com a apreciação do real, da taxa de câmbio, nessas últimas semanas. Mas a nova regra para os preços da Petrobras precisa ser melhor compreendida, especialmente em contexto de eventual forte depreciação do câmbio ou de repique nos preços do petróleo no mercado internacional", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, referindo-se à possibilidade, em conjunturas externas menos propícias, de "internalização de prejuízos", prejudicando a saúde financeira da Petrobras.
Assim, mais cedo, mesmo sem grande fôlego para ampliar uma sequência vitoriosa ainda menos frequente do que a de oito ganhos - desde agosto de 2003, há quase 20 anos, foram apenas sete vezes em que o Ibovespa, sem deixar cair, conseguiu empilhar ao menos nove ganhos diários, de acordo com o AE Dados -, o índice da B3 conseguia se desconectar de mais um dia de cautela em Nova York. Por lá, ainda prevalecem as incertezas em torno da elevação do teto da dívida federal americana, com efeito para a curva de juros dos Estados Unidos. Um eventual 'default', embora improvável, afeta diretamente a perspectiva do mercado para a taxa de juros de referência do Federal Reserve no fechamento do ano.
Aqui, além das questões relacionadas aos preços praticados pela Petrobras - que hoje anunciou cortes dos valores cobrados das distribuidoras para a gasolina, o diesel e o gás de cozinha, a partir de amanhã -, os investidores acompanham também os mais recentes sinais sobre o arcabouço fiscal, e de forma mista: por um lado, alguns mecanismos que sugerem um pouco mais de controle e responsabilidade sobre as contas públicas, e, de outro, a possibilidade de que os gastos venham a crescer no curto prazo, avaliam analistas.