Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O tom negativo prevaleceu na bolsa paulista nesta sexta-feira, fazendo o Ibovespa acumular queda na semana, afetado pela aversão a risco no exterior, conforme permanecem as preocupações relacionadas aos efeitos do surto de coronavírus na economia chinesa e seus reflexos na atividade global.
O viés de baixa foi avalizado pelo forte recuo dos papéis da Vale, após prejuízo trimestral bilionário e risco de nova provisão também bilionária relacionada ao desastre em Brumadinho (MG), e pelo fim de semana prolongado no Brasil em razão do Carnaval, com a B3 reabrindo apenas na quarta-feira.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 0,79%, a 113.681,42 pontos, contabilizando uma perda de 0,6% na semana. O volume financeiro nesta sexta-feira somou 21,8 bilhões de reais.
O Politburo do Partido Comunista chinês, conduzido pelo presidente Xi Jinping, disse que o momento de virada do surto de coronavírus na China ainda não aconteceu, enquanto o jornal do partido alertou que seria um erro imaginar que já se pode ver uma vitória.
"Tememos que o impacto econômico na Ásia possa ser maior do que pensávamos, pois mais interrupções foram relatadas devido a medidas de contenção", afirmou a equipe do Barclays (LON:BARC) em nota a clientes.
Os riscos relacionados ao coronavírus para a economia global devem ser discutidos por líderes financeiros do G20, que se reúnem na Arábia Saudita no fim de semana, em meio a tentativas de evitar que o surto vire uma pandemia global.
"O aumento dos novos casos de coronavírus fora da China deixa os mercados preocupados", acrescentou o gestor Ricardo Campos, sócio na Reach Capital, chamando a atenção também para dados mais fracos da economia chinesa recentemente, que têm elevado o temor de um efeito maior e mais prolongado no PIB.
"O sinal é de cautela no mercado externo", reforçou, citando o movimento do ouro, que atingiu máxima de sete anos nesta sexta-feira.
DESTAQUES
- VALE ON (SA:VALE3) recuou 3,97%, após reportar prejuízo líquido de 1,56 bilhão de dólares no quarto trimestre de 2019, principalmente devido a baixas contábeis e provisões relacionadas ao rompimento de barragem em janeiro de 2019, bem como afirmar que avalia provisão adicional de 1 bilhão a 2 bilhões de dólares relacionada ao desastre. BRADESPAR PN (SA:BRAP4), holding que concentra seus investimentos na Vale, caiu 1,5%.
- PETROBRAS PN (SA:PETR4) perdeu 2,6% e PETROBRAS ON (SA:PETR3) cedeu 2,8%, em sessão de queda dos preços do petróleo no exterior.
- ITAÚ UNIBANCO PN cedeu 1,18%, afetado pelo viés negativo no mercado como um todo, com BRADESCO PN (SA:BBDC4) recuando 0,8%.
- LOJAS AMERICANAS PN (SA:LAME4) avançou 7,7%, maior alta do Ibovespa, tendo de pano de fundo o balanço do quarto trimestre, com lucro líquido de 398 milhões de reais, avanço de 62% sobre o desempenho de um ano antes, com vendas maiores e avanço das operações de comércio eletrônico do grupo.
- B2W (SA:BTOW3), controlada pela Lojas Americanas, fechou em alta de 2,5%, revertendo fraqueza no começo do pregão. A varejista de comércio eletrônico divulgou prejuízo líquido de 22,3 milhões de reais no quarto trimestre, embora menor do que a perda de 69,4 milhões no mesmo período de 2018. Em teleconferência, executivos afirmaram que busca até 2022 acelerar crescimento e geração de caixa, bem como reduzir investimentos em 2021 e 2022 ante 2020.
- WEG ON (SA:WEGE3) valorizou-se 4,86%, ainda refletindo avaliação positiva sobre os números da companhia no último trimestre divulgados nesta semana, que superaram as expectativas.
- MARFRIG ON (SA:MRFG3) subiu 1,6% e JBS ON (SA:JBSS3) avançou 0,74%, ganhando fôlego no final da sessão após a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, anunciar no Twitter que os Estados Unidos reabriram o mercado de carne bovina "in natura" para exportações do Brasil. Fora do Ibovespa, MINERVA ON (SA:BEEF3) fechou em alta de 2,8%.
- CCR ON (SA:CCRO3) caiu 1,4%, tendo no radar leilão de trecho da BR-101 em Santa Catarina, vencido pela empresa com oferta de deságio de tarifa de pedágio de mais de 60%. A companhia superou oferta da rival ECORODOVIAS (SA:ECOR3), que caiu 0,9%.