Por Gabriel Codas
Investing.com - As ações das companhias aéreas Azul (SA:AZUL4) e Gol (SA:GOLL4) prosseguem na sessão desta quarta-feira (18) a tendência de forte desvalorizações devido ao impacto do surto de coronavírus em seus negócios. O novo catalisador de baixa foi o anúncio de ontem da agência de classificação de risco Moody’s de corte na nota de crédito atribuída à Azul e colocou o da Gol em revisão para rebaixamento, reforçando o forte impacto provocado nas companhias aéreas como efeito da pandemia de coronavírus.
Com isso, por volta das 11h30, a Azul desabava 17,53% a R$ 12,56, enquanto que a Gol despencava 13,75% a R$ 6,71. As duas ações estão entre as cinco maiores perdas do Ibovespa do dia, que perde 7,47% a 69.043 pontos em mais um dia de sentimento de aversão a risco prevalecendo no mercado.
Já em Santiago, a Latam (SN:LTM) perdia 14,41% a 2.251,00 pesos chilenos, enquanto as ADRs (NYSE:LTM)da companhia negociadas em Nova York desvalorizava 25,44% a US$ 2,52.
“A medida foi motivada pelo declínio acentuado no tráfego de passageiros desde o início do surto de coronavírus em janeiro de 2020, o que resultará em um fluxo de caixa livre negativo significativo em 2020, um perfil de liquidez enfraquecido e uma alavancagem significativamente maior”, afirmou a Moody’s, ao explicar o corte da nota da Azul (SA:AZUL4) em um degrau, de Ba3 para B1.
No entanto, a Moody’s colocou o rating da companhia em revisão para nova redução. No caso da Gol (SA:GOLL4), a Moody’s por ora apenas colocou o rating B1 em revisão para possível corte.
Em ambos os casos, a Moody’s afirmou que o perfil e as métricas financeiras em um ambiente pós-crise estão sujeitos a alta incerteza, mas esperar que elas possam ganhar participação e recuperar suas métricas financeiras ao longo do tempo, dependendo da gravidade da crise.
Na escala da Moody’s, o rating B1 fica três degraus acima do nível considerado especulativo.
A decisão da agência vem um dia após a Azul (SA:AZUL4) ter anunciado redução de 20% a 25% da capacidade em março e de 35% a 50% a partir de abril, enquanto a Gol (SA:GOLL4) anunciou um corte de até 70% da capacidade até junho e suspendeu voos internacionais a partir da próxima semana.
Em meio à crise deflagrada mundialmente no setor, com queda abrupta da demanda, além do efeito doméstico da escalada do dólar frente ao real, a ação da Gol (SA:GOLL4) já caiu 79% neste ano, enquanto a da Azul (SA:AZUL4) desabou 74% no período.
UBS
Em relatório divulgado nesta quarta-feira, o banco de investimentos UBS aponta que a magnitude e a duração do impacto do COVID-19 nas viagens ainda não são claras. Na avaliação a equipe, agora o impacto no tráfego parece ser provavelmente pior do que nas pandemias anteriores.
De acordo com a IATA em uma apresentação recente, o impacto de doenças anteriores na aviação atingiu o pico de 1 a 3 meses após o surto e recuperou os níveis antes do surto em 6 a 7 meses. No entanto, os analistas não enxergam evidências claras de que o novo coronavírus seguirá esse padrão.
Assim, com uma súbita deterioração drástica na demanda de ar e nas restrições de política de viagens de empresas e países, a UBS espera que uma estratégia de modo de sobrevivência seja adotada pelas empresas do setor para priorizar a solvência.
A demanda de tráfego aéreo está se deteriorando rapidamente nos últimos dias. De acordo com o Ministro da Infraestrutura do Brasil, as companhias aéreas brasileiras tiveram 50% dos voos cancelados em março para o segmento internacional e 30% para o segmento doméstico, que deverá piorar nas próximas semanas, para aproximadamente 70% e 50% dos voos, respectivamente.
A UBS fez uma estimativa apontando o fim da atual posição de caixa, considerando diversos cenários.
No atual cenário, com redução de trafego de 50%, a Azul (SA:AZUL4) chegaria até o 4º trimestre de 2021, podendo chegar ao terceiro trimestre deste ano caso haja a paralisação total do espaço aéreo.
No caso da Gol (SA:GOLL4), que já reduziu o trafego em 70%, o caixa chegaria até o segundo trimestre de 2021, e até o final deste ano caso da interrupção total das operações.
A Latam, segundo a UBS, vive a situação mais crítica, com o atual cenário (tráfego 50%) levando o caixa até o primeiro trimestre de 2021, e todas as outras possibilidades levaria o caixa até o segundo trimestre deste ano.