Por Gabriel Araujo
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil tem o potencial de se tornar um dos principais players mundiais em combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês), afirmou um executivo da Boeing (NYSE:BA) nesta terça-feira, à medida que o setor busca atingir sua ambiciosa meta de alcançar carbono zero, em emissões líquidas, até 2050.
A meta estabelecida dentro da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), que representa as companhias aéreas, dependerá em grande parte do desenvolvimento e aumento da produção de SAF, que é feito a partir de recursos renováveis como óleos vegetais ou resíduos.
O Brasil, um dos maiores produtores agrícolas do mundo, já é líder global em biocombustíveis como o etanol, feito a partir de cana-de-açúcar ou milho, e o biodiesel derivado do óleo de soja.
"O Brasil tem a capacidade técnica, tem a mão de obra qualificada, tem a matéria-prima para ter resultados e impactos concretos para resolvermos juntos esse desafio global de descarbonizar o sistema da aviação", disse Landon Loomis, chefe da Boeing para a América Latina e o Caribe, em fórum organizado pela empresa em São Paulo.
"A Boeing já é um dos maiores compradores de combustível sustentável de aviação do mundo", observou. "O Brasil tem muito potencial."
Embora uma radical mudança tecnológica seja considerada fundamental para reduzir as emissões da aviação, o foco principal do setor tem sido em combustíveis que podem ser usados nos motores a jato existentes, como o SAF à base de plantas ou resíduos, e alternativas sintéticas.
Garantir o fornecimento suficiente de SAF é o maior desafio do setor em sua busca por emissões líquidas zero, devido aos altos custos e ao crescimento lento da produção.
A Iata estima que o uso de SAF possa representar 65% dos esforços do setor para atingir emissões de carbono líquidas zero até 2050.
O presidente-executivo da Qatar Airways, Akbar Al Baker, sugeriu em maio que o setor não seria capaz de alcançar a meta de emissões devido à falta de suprimento adequado de SAF.
A Gol (BVMF:GOLL4) afirmou que vê o suprimento de SAF como uma questão urgente.
"A gente não vai chegar lá se esse negócio não começar já", disse Eduardo Calderon, diretor do centro de controle de operações da Gol, no evento desta terça-feira, observando que os custos do SAF atualmente são três vezes mais altos do que os dos combustíveis fósseis.
"O mundo já está atrasado. Se a gente realmente não começar a partir do processo de fabricação muito brevemente, a gente não vai conseguir essa meta ambiciosa de 2050."
(Reportagem de Gabriel Araujo)