SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, Brasil (Reuters) - A Boeing (NYSE:BA) inaugurou nesta terça-feira um novo centro de tecnologia e engenharia no Brasil, em busca de expandir sua presença global e aproveitar a expertise de um país que a companhia vê liderando a produção de combustíveis de aviação sustentáveis (SAF).
O movimento vem mais de três anos após a empresa desistir de um acordo bilionário para comprar a divisão comercial da fabricante brasileira de aeronaves Embraer (BVMF:EMBR3). A Boeing agora vê ambas as empresas alinhadas no objetivo de desenvolver o ecossistema aeroespacial do Brasil.
"Este é um local muito lógico para nós investirmos", disse o presidente global da Boeing responsável por estratégia e operações fora dos Estados Unidos, Brendan Nelson.
O Brasil, afirmou o executivo, tem engenheiros altamente treinados e está bem posicionado para liderar os esforços de descarbonização do setor. "Este investimento é de longo prazo", disse Nelson à Reuters.
A indústria aérea tem a ambiciosa meta de atingir zero emissões líquidas de carbono até 2050, objetivo com o qual o executivo reiterou que a fabricante de aviões está comprometida. A Boeing afirma ainda que o Brasil tem potencial para se tornar um dos principais "players" globais no mercado de SAF.
A meta de descarbonização depende em grande parte do desenvolvimento e aumento da produção de SAF, que é produzido a partir de recursos renováveis, como óleos vegetais ou resíduos. O Brasil é líder global em biocombustíveis como o etanol.
O novo centro de tecnologia da empresa em São José dos Campos, onde a Embraer tem sua sede, emprega cerca de 500 pessoas, segundo a Boeing, cujo principal cliente é a companhia aérea Gol (BVMF:GOLL4).
A fabricante de aviões não informou quanto pretende investir no Brasil.
A expansão da Boeing no Brasil levou dois grupos nacionais do setor aeroespacial e de defesa, Abimde e Aiab, a processar a empresa norte-americana por contratar talentos locais, movimento que consideram prejudicial para a própria indústria brasileira. Ambas as associações têm a Embraer como membro.
A Boeing defendeu seu movimento, dizendo que sua presença impulsionará o ecossistema aeroespacial brasileiro.
"Não estamos competindo com a Embraer pelo mercado deles. Competimos em mercados diferentes", disse o presidente da Boeing para a América Latina e Caribe, Landon Loomis, observando que as empresas também têm interesses compartilhados como membros do mesmo setor, incluindo sustentabilidade e segurança.
A divisão comercial da Embraer é focada em jatos regionais, enquanto a Boeing fabrica aeronaves maiores.
(Reportagem de Gabriel Araujo)