O Ibovespa manteve viés negativo pela terceira sessão, retornando hoje aos níveis de terça-feira passada, abaixo dos 119 mil e chegando mesmo a perder a linha dos 118 mil pontos no pior momento do dia. A retração de 6,1% nas vendas do varejo em dezembro, anunciada pela manhã, combinada à leitura abaixo do esperado para o IPCA em janeiro, divulgada ontem, faz acender a luz amarela quanto à recuperação da demanda em meio à pandemia. As conversas sobre a retomada de auxílio emergencial, sem vinculação a reformas, também continuam a afetar o humor dos investidores, deixando em segundo plano a expectativa para a aprovação da autonomia do BC, do agrado do mercado.
Assim, o índice da B3 (SA:B3SA3) fechou nesta quarta-feira em baixa de 0,87%, aos 118.435,33 pontos, tendo oscilado entre mínima de 117.969,94 e máxima de 119.738,13 pontos, com giro financeiro a R$ 36,2 bilhões. Na semana, o Ibovespa acumula perda de 1,50%, limitando os ganhos no mês a 2,93%. No ano, volta a terreno negativo, em baixa de 0,49%. O desempenho positivo das ações de commodities (Petrobras ON (SA:PETR3) +1,23%, Vale ON (SA:VALE3) +0,48%), alinhadas à alta nas cotações de petróleo (oitava consecutiva) e minério, foram o contraponto a um dia amplamente negativo em outros setores importantes, como siderurgia (CSN (SA:CSNA3) -2,99%), bancos (BTG (SA:BPAC11) -4,37%, Santander (SA:SANB11) -1,64%), utilities (Eletrobras ON (SA:ELET3) -1,88%) e varejo (Via Varejo (SA:VVAR3) -3,88%, Magazine Luiza (SA:MGLU3) -3,58%).
O tom amargo veio logo cedo: vendas do varejo em declínio superior ao pior prognóstico para dezembro. "Desvio de tamanha magnitude fora observado apenas nos primeiros meses da pandemia. A queda foi tão grande que o mais pessimista dos agentes projetava contração de apenas 2,0%", observa em nota Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.
"Por ser bem pulverizado entre setores - tirando supermercados que voltou a exibir resultado positivo -, as hipóteses de que apenas o 'fade out' do auxílio emergencial causou o dano é falaciosa", acrescenta o economista. Segundo Sanchez, embora a redução do auxílio tenha contribuído para o resultado, "setores associados a crédito também tiveram desempenho ruim, bem como outros itens vinculados a renda, que afetam faixa mais elevada do que a dos elegíveis ao programa social."
A sensação de que a economia continua debilitada, dependendo de estímulos para manter os sinais vitais em momento no qual a vacinação avança de forma bem gradual, acentua as preocupações sobre a situação fiscal do País. "Qualquer sinal sobre aumento de gastos, sem haver clareza quanto à origem dos recursos, tem causado estresse no mercado, afetando não apenas a Bolsa como também o câmbio e os juros. A perspectiva para os meses à frente está condicionada por uma série de 'se', o que tem resultado em tropeços após um início de fevereiro positivo, com a definição das presidências da Câmara e do Senado", diz Yuri Cavalcante, sócio-fundador da Aplix Investimentos.
O mal-estar foi em parte amenizado ainda no começo da tarde por declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes. Em conversa com parlamentares, ele descartou a possibilidade de novo imposto e cobrou aprovação do Orçamento de 2021, bem como de regras fiscais para viabilizar o auxílio - a indicação contribuiu para que o dólar mudasse de direção, passando a cair, e que os juros fossem às mínimas do dia. "As intenções do Guedes sempre ajudam, mas o momento é de passar da intenção para o resultado concreto", observa Cavalcante. "Enquanto não houver clareza sobre as reformas e sobre o custo fiscal do auxílio, a cautela vai prosseguir."