Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - A Bovespa fechou em queda nesta sexta-feira e com giro novamente fraco, pressionada por preocupações com o cenário político e com a Petrobras (SA:PETR4) guiando as perdas após anunciar pagamento de multa bilionária à Receita Federal.
O Ibovespa caiu 1,37 por cento, a 52.341 pontos.
O giro financeiro totalizou 4,75 bilhões de reais, novamente abaixo da média diária negociada no ano, de 6,75 bilhões de reais. A média em julho está em 5,2 bilhões de reais.
Na semana, o principal índice do mercado acionário brasileiro acumulou declínio de 0,47 por cento.
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou nesta sexta-feira seu rompimento com o governo e disse que defenderá que o PMDB também vá para a oposição, adicionando incertezas a um ambiente político já conturbado.
"Foi mais um capítulo de que a governabilidade está muito difícil e que tende a piorar ainda mais, elevando incertezas principalmente sobre o necessário ajuste fiscal", disse o gestor Eduardo Roche, da Canepa Asset Management.
"Essa nova confusão vem em um momento delicado, com a Moody's no país. A dúvida é quanto isso pode ainda afetar a avaliação da agência", acrescentou, referindo-se à missão da agência de classificação de risco no país nesta semana.
A Moody's avalia o Brasil como "Baa2", com perspectiva negativa, e analistas veem como elevada a chance de corte na nota para "Baa3", que deixaria o país na última classificação dentro do grau de investimento.
"A renovada incerteza política no Brasil está aumentando hoje e revertendo um período de complacência dos investidores em ativos de risco locais", disse o JPMorgan, em nota a clientes, afirmando que teve vários clientes perguntando sobre formas mais eficazes e personalizadas em termos de custos para vender ou se proteger de Brasil.
O front econômico referendou o pessimismo, com o índice de atividade do Banco Central (IBC-Br) mostrando que a economia ficou praticamente estagnada em maio, enquanto o Caged apurou o fechamento de 111.199 vagas formais no mês passado, o pior junho da série histórica iniciada em 1992.
DESTAQUES
=PETROBRAS fechou com queda de mais de 4 por cento, após pagar 1,6 bilhão de reais à Receita Federal por conta de uma autuação relativa a operações com controladas no exterior. "É uma saída adicional em um momento em que a empresa precisa reduzir o seu consumo de caixa. Na nossa opinião, o governo está agindo para melhorar a cobrança de impostos, o que provavelmente irá acelerar a decisão sobre os litígios fiscais e poderia aumentar a probabilidade de desembolsos adicionais de caixa no futuro próximo", disse o Itaú (SA:ITSA4) BBA em relatório. "Vemos riscos para o lucro, dividendos e alavancagem se mais decisões negativas saírem este ano", disse o Morgan Stanley (NYSE:MS) também em relatório a clientes.
=FIBRIA e SUZANO PAPEL E CELULOSE caíram 4,35 por cento e 5,47 por cento, respectivamente. O serviço de notícias RISI, especializado na indústria global de produtos florestais, publicou que fornecedores de celulose têm sido forçados a reduzir os preços ao longo das últimas duas semanas na China. O BTG Pactual (SA:BBTG11) afirmou que está começando um período sazonalmente mais fraco para o consumo de celulose no hemisfério norte, enquanto há um pouco mais de oferta a caminho, mas não vê fundamentos para um colapso nos preços de celulose, a menos que ocorra um choque de demanda. "Claramente, o momento para o setor não é como era há alguns meses, mas ainda estamos otimistas", disse, em nota a clientes. A Suzano (SA:SUZB5) acumula queda no mês de 15 por cento.
=GERDAU fechou em queda de 4,44 por cento, em mais uma sessão pressionada pela apreensão com o recente anúncio de que vai desembolsar quase 2 bilhões de reais para comprar as participações minoritárias em quatro empresas. Nesta sexta-feira, o grupo siderúrgico disse que os acionistas vendedores dessas participações são o banco Itaú Unibanco (SA:ITUB4) e a unidade na holanda do grupo siderúrgico ArcelorMittal, e que as compras decorreram de "oportunidade de mercado" e foram realizadas com "preços adequados".
=GOL caiu 3,91 por cento, com a alta do dólar ante o real e a recomendação de "venda" para as ações pelo Goldman Sachs corroborando ajuste de baixa nos papéis, após alta expressiva recente em meio ao anúncio de acordo financeiro para reforçar a liquidez da aérea brasileira. O Morgan Stanley também divulgou prévia sobre a nova carteira do Ibovespa que passará a vigorar em setembro, prevendo a saída do papel da companhia aérea no próximo rebalanceamento.
=SABESP perdeu 2,32 por cento, após negar em comunicado publicado no final da noite de quinta-feira que esteja negociando com a prefeitura da capital paulista repassar a consumidores receitas que atualmente remetem ao Fundo de Saneamento Ambiental da cidade.
=CIA HERING cedeu 3,73 por cento, com declarações do presidente da empresa, Fabio Hering, ao Valor Econômico, de que a companhia só deve mostrar resultados mais consistentes em dois anos, bem como negativa sobre negociação concreta com parceiros estratégicos para vender o controle da companhia. A corretora Brasil Plural (SA:BPFF11) disse em nota a clientes que a Cia Hering (SA:HGTX3) ainda tem desafios enormes antes de começar a entregar um crescimento consistente e que vê riscos relevantes ao modelo de negócia se a companhia falhar em trazer os franqueados para o jogo.
=EMBRAER avançou 0,83 por cento, uma das poucas altas do Ibovespa, encontrando suporte na valorização do dólar acima de 1 por cento frente ao real.
=CIELO também ficou na ponta positiva, com avanço de 0,93 por cento. O Credit Suisse elevou o preço-alvo da ação de 44 para 50 reais e reiterou recomendação de "compra", destacando que a empresa tem feito um trabalho excepcional nos últimos anos. O banco disse acreditar que balanço do segundo trimestre da empresa será emblemático ao mostrar um resultado sólido, mesmo em um cenário de baixo crescimento e custos ainda altos.
=PDG (SA:PDGR3), que não está no Ibovespa, despencou 15 por cento, após anunciar na véspera mudanças em seu alto escalão, com a substituição de executivos que assumiram em 2012 para sanear as finanças e colocar companhia em crescimento.