Por Priscila Jordão e Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - A bolsa brasileira encerrou o último pregão de 2015 em queda, acompanhando os mercados no exterior, e sofreu sua terceira desvalorização anual seguida, diante do descontentamento de investidores com o cenário macroeconômico e político no Brasil.
O Ibovespa caiu 0,7 por cento nesta quarta-feira, a 43.349 pontos. O giro financeiro do dia foi de 4,9 bilhões de reais, bem abaixo da média do ano, de 6,80 bilhões de reais.
O desempenho negativo do pregão seguiu a baixa das bolsas europeias e norte-americanas, que foram afetadas por nova queda dos preços do petróleo, com o barril perto das mínimas em 11 anos, e ocorreu em meio à manutenção do pessimismo com a situação das contas públicas brasileiras.
Em dezembro, o Ibovespa acumulou baixa de 3,9 por cento.
No ano, o índice de referência do mercado acionário doméstico amargurou desvalorização de 13,3 por cento, depois de cair 2,9 por cento em 2014 e recuar 15,5 por cento em 2013.
Além da decepção de investidores com o cenário macroeconômico e político no país, tem pesado sobre a bolsa a fraqueza de preços de commodities.
A perda do selo de bom pagador do Brasil por duas grandes agências globais de classificação de risco, Standard & Poor's e Fitch, teve efeito limitado porque a exposição ao Brasil já estava bastante baixa --"underweight" no jargão do mercado.
As operações da Polícia Federal adicionaram volatilidade, com destaque para a Lava Jato, derrubando ações de empresas que tinham o seu nome ou de algum controlador citado nessas investigações.
Do exterior, a expectativa da primeira alta de juros em quase uma década pelos Estados Unidos, confirmada agora em dezembro, somou-se à desaceleração da economia da China como fator de pressão negativa nos preços de commodities, como petróleo e minério de ferro.
Entre as ações do Ibovespa que mais se desvalorizaram em 2015 aparecem os papéis da companhia aérea Gol (-83,4 por cento), que sofreu com o impacto da alta do dólar no custo do combustível e a queda da demanda por voos, e as ações da endividada operadora de telefonia Oi (-77,4 por cento).
Empresas do setor siderúrgico também tiveram forte baixa, afetadas pelo preço menor do minério de ferro e o cenário de crescimento chinês mais contido. Metalúrgica Gerdau (SA:GGBR4) teve baixa 85,1 por cento e Usiminas (SA:USIM5) perdeu 69,1 por cento no ano.
Já na ponta das maiores altas o destaque ficou com Braskem (SA:BRKM5) (+66,2 por cento), em meio ao cenário positivo da alta do dólar para as exportações e a internacionalização de suas operações, e com empresas produtoras de celulose, com perspectiva de manutenção da boa demanda pela commodity e receitas de exportação também favorecidas pela valorização da moeda norte-americana. Fibria (SA:FIBR3) subiu 71,4 por cento no ano e Suzano (SA:SUZB5) ganhou 68,8 por cento.
Para 2016, o mercado acionário deve seguir desafiador, com a turbulência política e as incertezas sobre o pedido de abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff alimentando uma recessão econômica histórica, segundo pesquisa da Reuters com economistas e estrategistas realizada no início deste mês.
O Ibovespa deve valorizar-se 10 por cento até o fim de 2016, para 50 mil pontos, segundo a mediana das projeções de 11 analistas consultados em pesquisa conduzida de 7 a 10 de dezembro. Essa valorização oferece menos ganhos do que a taxa básica de juro Selic, atualmente em 14,25 por cento ao ano.