Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A Caixa Econômica Federal venderá uma fatia menor do que a pretendida originalmente na oferta inicial de ações (IPO) da Caixa Seguridade, repetindo o modelo usado com o Banco Pan (SA:BPAN4) de alienar participação em etapas e abrir caminho para desmobilizar outros ativos, disse à Reuters uma fonte familiarizada com os planos do banco estatal.
"O modelo de venda de participação em tranches deve ser repetido na Seguridade", disse a fonte sob condição de anonimato, porque não pode falar do assunto publicamente.
O banco controlado pelo governo federal publicou na terça-feira o cronograma do IPO da Caixa Seguridade, operação que deve movimentar cerca de 5 bilhões de reais, levando em conta o ponto médio da faixa estimada pelos coordenadores. Isso representa menos do metade do que o banco pretendia quando pediu registro para a oferta no ano passado, de 10 a 15 bilhões de reais.
Segundo a fonte, por ser altamente rentável - em 2020 a companhia teve rentabilidade sobre o patrimônio de 35% - a ação deve ter um grande apelo entre investidores de varejo que buscam papéis de empresas boas pagadoras de dividendos. O plano da Caixa é vender cerca de 40% do IPO para esse público.
"Se a experiência com essa oferta for boa, o apetite pelas demais tende a crescer", disse a fonte, referindo-se a potenciais vendas subsequentes de participações da Caixa no negócio, assim como os IPOs de outras subsidiárias do banco, incluindo a de cartões, a de gestão de recursos de terceiros e a da bandeira Elo.
Também na véspera, a Caixa Econômica anunciou a venda de sua participação no Banco Pan ao sócio BTG Pactual (SA:BPAC11), por 3,7 bilhões de reais, na quarta e última venda de fatia no negócio no qual entrou há uma década. Após anos acumulando prejuízos, o Pan teve uma virada. Em 2020, teve lucro de 655,6 milhões de reais, 27% a mais do que um ano antes.
Somando as vendas de participação no Pan em etapas, a Caixa calcula ter tido no final um lucro de 2 bilhões de reais, dinheiro que será usado para repagar empréstimos tomados com o governo federal com instrumentos híbridos de capital (IHCD).
O plano da Caixa Econômica em 2020 já era desmobilizar a participação do banco gradualmente, para evitar que a venda de lotes muito grandes acabasse derrubando o preço das ações. A expectativa na época era uma venda inicial de cerca de 25% do capital. Na oferta redimensionada, prevista para ser precificada em 27 de abril, essa fatia cai para 15% do capital, disse a fonte.
ELO
A listagem da unidade de seguros é um plano antigo do banco federal, que tentou o IPO pela primeira vez em 2015. Com a volatilidade permanente da bolsa brasileira e as renegociações de termos de acordo com o CNP Assurances, essa meta foi adiada sucessivas vezes.
Agora, mesmo com a instabilidade do mercado acionário doméstico que já levou 21 empresas a desistirem de estrear na Bovespa apenas em 2021, a Caixa insistiu em levar sua oferta adiante, como um abre alas para as demais vendas de ativos.
A próxima da fila tende a ser a bandeira de cartões Elo, negócio que a Caixa tem sociedade com Banco do Brasil (SA:BBAS3) e Bradesco (SA:BBDC4).
Nesta semana, os sócios definiram passos preliminares em preparação para o IPO da unidade, incluindo a atualização das fatias de cada um na Elo, com base no volume de cartões emitidos por cada um nos últimos anos. Essa revisão fez a participação da Caixa na Elo subir de 36% para 41%, tornando-se o maior acionista da empresa.
"A Elo deve ser listada na Nasdaq no começo do segundo semestre", disse a fonte, acrescentando que naquele mercado estão listadas outras empresas do setor de pagamentos e a companhia tem condições de ser melhor avaliada pelos investidores. Nos Estados Unidos, estão listadas as empresas de meios de pagamentos Stone (NASDAQ:STNE) e PagSeguro (NYSE:PAGS).
Os IPOs das demais unidades da Caixa, incluindo a do banco digital Caixa Tem, também prevista para ocorrer na bolsa norte-americana, ainda dependem de aprovações prévias do Banco Central.
Consultada, a Caixa Econômica afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que não vai comentar sobre o IPO da Caixa Seguridade por causa do período de silêncio e nem sobre a Elo, porque ainda não há nada decidido sobre eventual listagem.