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Carrefour pede desculpa e espera normalização de abastecimento de carne em lojas no Brasil

Publicado 26.11.2024, 09:23
© Reuters. Logotipo do varejista francês Carrefour em Montesson, perto de Paris, Françan13/09/2023nREUTERS/Sarah Meyssonnier
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SÃO PAULO (Reuters) - O Carrefour (BVMF:CRFB3) Brasil, maior rede de supermercados do país, afirmou nesta terça-feira que espera uma normalização do abastecimento de carne bovina em suas lojas nos próximos dias, depois que o presidente mundial do grupo pediu desculpas ao setor agropecuário brasileiro por críticas feitas na semana passada.

A matriz da companhia na França publicou mais cedo um pedido de desculpas em que afirmou não ter tido a intenção de colocar o setor agropecuário francês contra o brasileiro. Também acrescentou que a empresa é "parceira número 1" do agro do Brasil.

A polêmica começou na quarta-feira passada, quando o presidente mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, afirmou em comentário publicado em redes sociais direcionado aos líderes de lobbies agrícolas da França que o acordo UE-Mercosul apresenta "risco da produção de carne transbordar para o mercado francês, deixando de atender às suas exigências e padrões".

Na ocasião, Bompard chegou a dizer que o Carrefour queria formar uma "frente unida com o mundo agrícola" e se comprometeu a "não vender nenhuma carne do Mercosul".

A publicação foi rechaçada não só por representantes de produtores pecuaristas brasileiros como também pelo próprio ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que afirmou na segunda-feira que ficou feliz com a decisão dos fornecedores brasileiros de carne bovina de promover um boicote ao Carrefour.

Bombard, em carta nesta terça-feira dirigida a Fávaro, pediu desculpas e afirmou que o grupo Carrefour "sabe que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor".

"Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas", disse o principal executivo da maior rede de supermercados da Europa.

O Ministério da Agricultura confirmou o recebimento da carta de Bompard e afirmou que o Brasil conta com um "sistema de rigoroso de defesa agropecuária, que posiciona o país como o principal exportador de carne de aves e bovina do mundo, o Mapa reitera os elevados padrões de qualidade, sanidade e sustentabilidade da produção agropecuária brasileira", segundo nota da pasta à imprensa.

A troca de comunicações nesta terça-feira ajudava a valorizar as ações do Carrefour Brasil, que subiam 6% às 16h20, entre as principais altas do Ibovespa, que mostrava ganho de 0,75%.

"Apesar da carne bovina normalmente representar um dígito baixo a médio das vendas, a categoria mais ampla de proteínas é mais relevante, sendo responsável por mais de 10% das vendas de um atacarejo", afirmaram analistas do Citi em referência ao setor de atuação do Atacadão, maior empresa do segmento e controlada pelo Carrefour.

"A categoria (carne bovina) também motiva tráfego de clientes, o que explica a urgência para normalização do fornecimento o mais rápido possível", acrescentaram os analistas João Pedro Soares e Felipe Reboredo, do Citi.

O Carrefour Brasil, que iniciou o dia afirmando que esperava a normalização de entregas às suas lojas "no curto prazo", publicou um novo fato relevante próximo ao meio-dia citando que "o cronograma de entregas de produtos de carnes bovinas foi retomado" e que a companhia "espera a normalização do reabastecimento no decorrer dos próximos dias".

ENTREGAS ATRASADAS

O Carrefour Brasil disse mais cedo que desde 21 de novembro, um dia depois dos comentários de Bompard, houve desabastecimento de "alguns cortes de carnes" nas lojas do Atacadão em algumas regiões do país. Enquanto isso, as lojas Sam's Club e da bandeira Carrefour apresentaram "nível de ruptura dentro do curso normal dos negócios", apoiadas por estoques.

As vendas de carne bovina representam menos de 5% das vendas brutas do grupo Carrefour no Brasil, "com perfil de rentabilidade inferior à média dos negócios", afirmou a empresa. A companhia citou ainda que nenhum fornecedor representa individualmente mais que 4% das vendas brutas do grupo no país, "mas dentro de carne bovina, os principais fornecedores são concentrados".

"Não houve, até o momento, impacto relevante nas operações de venda de mercadorias, dado o nível de estoque dos produtos", afirmou o Carrefour Brasil.

A Abiec, associação brasileira dos exportadores de carne bovina e uma das críticas aos comentários de Bompard, afirmou em comunicado à imprensa nesta terça-feira que a agroindústria brasileira recebeu "com satisfação o pedido de desculpas e o reconhecimento da excelência do produto e do produtor brasileiro por parte do presidente-executivo global do Carrefour, Alexandre Bompard".

"Esperamos que, com isso, as operações da rede francesa sejam restabelecidas", disse a entidade.

Já a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) afirmou que, em contraposição ao "equívoco" de sua primeira manifestação, a nova carta de Bompard faz jus à maior organização varejista atuante no Brasil.

"A carta vai ao encontro de uma relação sólida construída entre o mercado europeu e o setor exportador de proteína animal do Brasil, que desde o ano 2000 já exportou cerca de 7,7 milhões de toneladas de carne de frango para a União Europeia, atendendo aos mais elevados critérios sanitários estabelecidos pelas autoridades europeias...", afirmou a associação que representa processadores de aves e suínos.

© Reuters. Logotipo do varejista francês Carrefour em Montesson, perto de Paris, França
13/09/2023
REUTERS/Sarah Meyssonnier

Na semana passada, o ministro Fávaro havia dito que os comentários de Bompard tratavam-se de uma "ação orquestrada" por empresas francesas para sabotar o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, que as autoridades pretendem finalizar este ano.

Nesta terça-feira, Fávaro afirmou que, com o pedido de desculpas do presidente do Carrefour, o episódio está superado. Mas, segundo ele, a situação mostrou que quem "ofender" o agronegócio brasileiro terá "resposta à altura".

(Por Alberto Alerigi Jr., com reportagem adicional de Ana Mano, Rodrigo Viga Gaier e Roberto Samora)

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