Investing.com - O almejado 100 mil pontos quase se tornou uma maldição com a tensão política iniciada na segunda quinzena do mês. Após atingir a marca simbólica e desejada pelo mercado na sessão de 18/3, o Ibovespa desceu ladeira abaixo, perdendo quase 10 mil pontos até a semana seguinte. O piso ocorreu na quarta-feira (27) quando despencou 3,57% aos 91.903 pontos, sexta sessão consecutiva finalizada no vermelho após os 100 mil pontos.
A troca de farpas entre o presidente da Câmara Rodrigo Maia e o presidente Jair Bolsonaro passou a mensagem de que a aprovação da reforma da Previdência poderia não acontecer, ou ser desidrata a ponto de ficar distante da economia estimada de R$ 1,1 trilhão em 10 anos da proposta original do governo. O imbróglio entre os poderes da República influenciou na percepção de risco dos investidores, que amplificou o mau humor no exterior.
O Ibovespa encerrou esta semana no positivo, com ganhos de 1,79% a 95.414,55 pontos, mas em queda de 0,18% no mês marcado pela volatilidade. O dólar também sofreu com a aversão ao risco, com uma alta de 4,32% em março, encerrando o mês negociada a R$ 3,9154.
Moro, Carlos e Jair Bolsonaro vs. Maia
A tensão política iniciou no dia 20, quando Maia criticou o ministro da Justiça Sergio Moro pela pressão para tramitar, junto com a reforma da Previdência, o pacote anticrime e anticorrupção encaminhado ao Congresso em fevereiro. No dia 22, o presidente da Câmara dos Deputados se irritou do compartilhamento de Carlos Bolsonaro com as críticas de Moro à Maia em torno da tramitação do pacote do Ministério da Justiça.
Maia não gostou do comportamento do filho do presidente e ameaçou sair da articulação política da reforma da Previdência no Congresso. Apesar de no início da semana do dia 25 Bolsonaro orientar a sua equipe a ter foco na Presidência e o ministro da Economia Paulo Guedes e o governador de São Paulo João Doria Jr apaziguarem os ânimos, a troca de farpas continuou na última quarta-feira.
Em entrevista à TV Bandeirantes, Bolsonaro afirmou que Maia estaria "abalado por questões pessoais", possivelmente se referindo à prisão do padrasto de sua esposa, o ex-ministro Moreira Franco, solto dias depois. O deputado retrucou dizendo que o presidente "brinca de governar o país e que está na hora de parar a brincadeira". A paz foi selada no dia seguinte, quando Bolsonaro disse que as divergências são “página virada” e foram “uma chuva de verão”, reforçando que não tem problema com Maia. O apaziguamento foi o primeiro sinal incipiente de avanço da tramitação da reforma da Previdência.
Guedes assume protagonismo
Outra sinalização foi o almoço entre Maia e Guedes – com participação de líderes partidários - na quinta-feira (28) com o acerto dos dois serem os articuladores políticos da reforma da Previdência – junto com o ministro-chefe da Casa Civil Onyx Lorenzoni. Após a conversa, os dois trocaram elogios, com o ministro assegurando que o "barulho" gerado por atritos políticos recentes vai diminuir, enquanto Maia afirmou que seu foco é fazer as reformas no Brasil.
O ruído político não foi apenas o desentendimento de Bolsonaro com Maia. Referia-se também ao tratamento dispensado pelo Palácio Planalto aos deputados descontentes com a forma com que o governo se relaciona com o parlamento. Durante a última semana do mês, Bolsonaro se esquivava de assumir o protagonismo da articulação política, citando que não faria “toma lá, dá cá” para conseguir apoio de deputados e senadores para aprovar a reforma, com a justificativa de que “não teria o mesmo destino de [ex-presidentes] Lula e Michel Temer”.
O descontentamento foi observado na Câmara dos Deputados na terça-feira à noite. O plenário aprovou, em dois turnos, a PEC que impõe o cumprimento de emendas coletivas dos parlamentares no Orçamento da União, considerada uma derrota para o governo. A pauta foi encaminhada ao Senado, que deve votá-la na semana que vem. No mesmo dia mais cedo, o ministro Guedes não compareceu à audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, devido ao receio de o encontro com os deputados se tornar uma sabatina de opositores sobre a reforma.
Ante as dificuldades da articulação o mercado está sob a cautela em relação à aprovação da reforma, e aguarda a movimentação de Maia, Onyx e Guedes para tirar o descontentamento dos deputados. O fim da troca de farpas já possibilitou a escolha do relator na CCJ, o deputado Delegado Marcelo Freitas (PSL-MG). A previsão é que o texto seja votado na Comissão em 17/4.
Maiores movimentações no mês
Em março, a ponta positiva do Ibovespa foi liderada pela CSN (SA:CSNA3), com +17%, seguida por JBS (SA:JBSS3) (+12,7%), Bradespar (SA:BRAP4) (+11,3%), BRF (SA:BRFS3) (+10,4%) e Vale (SA:VALE3) (+8,9%).
O lado vermelho ficou com CCR (SA:CCRO3), com recuo de -15,8%, Lojas Americanas (SA:LAME4) (-14,7%), B2W (SA:BTOW3) (-14,4%), Ecorodovias (SA:ECOR3) (-13,6%) e Cielo (SA:CIEL3) (-12,1%).