Por Juliana Schincariol e Tatiana Bautzer
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A batalha pelo controle da Estácio Participações (SA:ESTC3) ganhou força nesta terça-feira com o fracasso dos esforços da segunda maior empresa de ensino superior privado do Brasil em permanecer independente não sendo suficientes para evitar ofertas de concorrentes.
A Kroton Educacional (SA:KROT3) melhorou em quase um terço sua oferta não solicitada pelo controle da Estácio em relação ao plano divulgado em 2 de junho. A Reuters antecipou a intenção da Kroton em melhorar a proposta na semana passada.
Uma fonte a par dos planos da Kroton disse que a proposta de trocar 1,25 ação de emissão da Kroton por cada papel da Estácio já ganhou apoio de cerca de 40 por cento dos acionistas da Estácio, e que é definitiva. A Kroton é maior companhia de educação do mundo em valor de mercado.
A outra interessada é a Ser Educacional (SA:SEER3), que está disposta a rever os termos da oferta de fusão envolvendo dinheiro e ações encaminhada ao Conselho de Administração da Estácio em 5 de junho, disse o presidente-executivo da Ser, Jânyo Diniz, nesta terça. Ele não deu mais detalhes sobre quais seriam os novos termos.
A ofensiva de Kroton e Ser ocorrem em meio à oposição da segunda maior acionista da Estácio, a família Zaher, sobre a venda da companhia. Chaim Zaher foi nomeado presidente-executivo interino da Estácio na semana passado para ajudar a proteger a companhia das ofertas de aquisição, cortar custos e voltar a se expandir.
A briga pela Estácio, uma companhia de cerca de 588 mil estudantes e receita anual de 4,3 bilhões de reais, coloca em cena o que pode se tornar a batalha mais feroz por uma aquisição não solicitada no setor educacional privado brasileiro, uma das indústrias de maior crescimento no país.
Analistas disseram que a Estácio inchou sua estrutura de custos, comparada à dos rivais, tornando-se um alvo sedutor: um comprador terá amplo espaço para cortar custos e fortalecer o foco do negócio em expansão geográfica e de segmentos.
Os Zaher querem ao menos 1,5 ação da Kroton por cada papel da Estácio, disse à Reuters uma fonte próxima à família.
A proposta mais recente da Kroton tem validade até 30 de junho e avalia a Estácio em um quarto de seu tamanho, apesar de ter quase metade do número de estudantes, adicionou essa fonte próxima aos Zaher.
Kroton e Estácio recusaram-se a comentar.
APOIO
O interesse na Estácio destaca a força de operadores privados do ensino superior mesmo quando uma recessão de dois anos pressiona o aumento da inadimplência e o governo reduz o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
A desaceleração do crescimento da receita levou as ações da Estácio, resultado de uma série de aquisições nos últimos anos, a uma queda de 21 por cento no acumulado de 2016 até 1º de junho, um dia antes do anúncio da proposta da Kroton.
Em comparação, fortes resultados impulsionaram as ações da Kroton e da Ser a uma alta de 18 e de 51 por cento, respectivamente, no mesmo período.
Desde que a disputa pela Estácio começou, as ações da Estácio saltaram mais de 40 por cento.
A família Zaher, que detém 13 por cento da Estácio, está tomando uma posição dura na negociação com a Kroton, vista por eles como predadora.
O presidente-executivo da Ser disse à Reuters por telefone que a "gente está preparado para levar uma proposta que gere valor para os dois acionistas, das duas companhias", caso os acionistas da Estácio reúnam-se com a companhia para rediscutir os termos da proposta.
O voto dos Zaher, contudo, pode não ser suficiente para bloquear a proposta da Kroton, disseram analistas e investidores.
A primeira fonte, que falou em condições de anonimato, disse que acionistas com posições nas duas companhias e exclusivamente em Estácio prometeram apoio à proposta melhorada da Kroton, sem especificar nomes.
Entre os principais acionistas estão o Oppenheimer Funds, que detém 18 por cento da Estácio e 5 por cento da Kroton.
A eventual união entre Kroton e Estácio deve enfrentar obstáculos no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e em outras esferas. Na semana passada, a Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ) apresentou denúncia no Cade contra o interesse da Kroton em adquirir a Estácio, dizendo que criaria um competidor com elevado poder de mercado.
Uma combinação Kroton-Estácio resultaria em uma empresa quase quatro vezes maior em número de estudantes do que a Ser Educacional.
(Reportagem adicional de Silvio Cascione em Brasília e Ana Mano e Brad Haynes em São Paulo)