Notícias corporativas no Brasil e sinais de avanço na negociação de novas vacinas contra a covid-19 no País permitiram ao Ibovespa subir acima dos 120 mil pontos em boa parte da manhã. No entanto, perto do meio-dia, o índice passou a renovar mínimas, refletindo, segundo analistas, dúvidas a respeito do andamento da agenda de reformas, cuja pauta foi apresentada ontem pelo Congresso Nacional. A queda vai na contramão de Nova York, que sobem, puxadas por dados melhores da economia. Os pedidos de auxílio-desemprego no país caíram 33 mil na semana, a 779 mil, contrariando expectativa de alta a 830 mil.
"Não estamos conseguindo seguir o bom humor externo por causa das nossas questões. Sugere que o índice pode ficar andando de lado até que alguma das pautas reformistas saiam do papel. Os projetos estão parados há um tempo na mesa e agora podem andar, mas quando vão tramitar? Há temor de isso ser só espuma', avalia André Machado, sócio fundador do Projeto Os 10%, escola de traders.
Além disso, o noticiário envolvendo principalmente a Vale (SA:VALE3) tem de ser avaliado com cuidado, cita o gestor. "O acordo com Brumadinho tende a tirar uma incerteza do radar, apesar do provisionamento menor que o acordo. Também temos de lembrar que os dados da China estão crescendo em ritmo menor, é algo a se acompanhar", diz.
Hoje, a mineradora fechou acordo de R$ 37 bilhões com o governo de Minas Gerais para reparação dos danos socioeconômicos e socioambientais causados pelo rompimento da barragem em Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), em janeiro de 2019. As ações da companhia subiam quase 2% mais cedo e as negociações até foram suspensas após fato relevante sobre acordo de Brumadinho. Perto de meio-dia, caíam 0,59%.
Ontem, a Vale informou produção de 300 milhões de toneladas de minério de ferro no ano passado. Além disso, o minério de ferro negociado no porto chinês de Qindgao subiu 3,52% e saltou 5,3% no mercado futuro do país. No entanto, os entrevistados ressaltam que há preocupação em relação ao ritmo de retomada da China, cujos dados têm crescido menos do que o esperado, o que pode atingir o Brasil que tem na Vale um dos principais parceiros do gigante asiático.
Outro ponto, destaca Eduardo Cubas, da Manchester Investimentos, é que tanto a produção da Vale quanto o lucro recorde do Bradesco (SA:BBDC4) no quarto trimestre foram influenciados por fatores que não sugerem retomada da economia. "No caso do banco, ajudaram na geração de caixa cortes de custos, como demissões e fechamentos de agências, além da digitalização, que é o caminho a ser seguido. Já no caso da Vale, o minério de ferro subiu e ainda continua subindo. Portanto, não significa que o desempenho das empresas signifique que a economia está bem, que está acelerando forte", afirma.
Contudo, internamente, as promessas de avanço da agenda liberal continuam. Hoje, o presidente da comissão mista da reforma tributária no Congresso, senador Roberto Rocha (PSDB-MA), afirmou que pretende concluir a proposta no colegiado até o fim de março. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que a Casa tratará com rapidez a reforma administrativa e que a PEC Emergencial vai dar cobertura para espaço no orçamento. Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente, do Senado, por sua vez, afirmou que o conteúdo da reforma precisa amadurecer nas duas casas.
No fundo, diz Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença, não há novidades, fatos concretos. "Sem isso, o mercado não anda", afirma, completando que "lá fora as bolsas também estão devagar."
Apesar dos indícios promissores após a eleição do comando do Congresso, Roberto Attuch Jr., CEO da Ohmresearch, afirma que o investidor interno e do exterior tende a adotar certa cautela até que realmente veja evolução da pauta reformista. "Ainda é muito cedo para avaliar se andará. De forma geral, acredito que o mercado vai esperar, dar um prazo de seis meses para ver se as medidas acontecem", diz.