Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - A Eletrobras (BVMF:ELET3) vai reduzir ainda mais seu portfólio de sociedades de propósito específico (SPEs) e prevê levantar cerca de 4,4 bilhões de reais com a venda de participações que detém em empresas até 2023, como parte das ações no processo de transformação elétrica após a privatização, disse nesta quinta-feira o CEO, Wilson Ferreira Júnior.
Em teleconferência para comentar os resultados trimestrais, o executivo ressaltou que a companhia já escalou um time para organizar e dar início às iniciativas que levarão a uma virada de chave na Eletrobras.
Segundo ele, esse time de transformação já deu início a 40 iniciativas prioritárias, ligadas às áreas de Negócios, Transformação Organizacional, Otimização de Custos e Despesas e Estratégia Financeira e 'Advisory'. Outras 20 iniciativas estão mapeadas e serão iniciadas a partir de 2023.
Em uma das frentes, a elétrica continuará com a racionalização de suas SPEs, em um processo que se estende desde 2016 e já alcançou mais de 3 bilhões de reais em vendas. A previsão é encerrar este ano com 64 SPEs, ante as 75 atuais.
A Eletrobras também vai reestruturar sua carteira de participações em empresas, sendo que a expectativa é de vender cerca de 4,4 bilhões de reais em posições não estratégicas em empresas de capital aberto e fechado até o final de 2023.
No mês passado, por exemplo, a elétrica vendeu a totalidade de sua participação acionária (1,56%) na Companhia Energética de Pernambuco (Celpe (BVMF:CEPE5)), controlada pela Neoenergia (BVMF:NEOE3). A operação foi realizada através de uma oferta de aquisição de ações (OPA) lançada pela Neonergia e rendeu 49 milhões de reais à Eletrobras.
Em outra ação de curto prazo, a empresa destacou o Plano de Demissão Voluntária (PDV) lançado no fim de outubro. Ferreira Júnior disse esperar "grande adesão" ao PDV, que tem 2.312 empregados elegíveis e um custo estimado de 1 bilhão de reais. Os desligamentos devem ocorrer entre dezembro deste ano e abril de 2023.
REDUÇÃO DE PASSIVOS E VENDA DE ENERGIA
Outro tema prioritário nesse momento para a Eletrobras é a redução dos passivos contigentes, que vêm causando volatilidade em seus resultados trimestrais, disse Ferreira Júnior.
Segundo o CEO, a companhia vai passar a "efetivar" acordos judiciais, de modo a reduzir o volume bilionário de contingências no balanço.
Nos últimos trimestres, um dos principais motivos para os aumentos de provisões no balanço da Eletrobras tem sido a inadimplência da Amazonas Energia, distribuidora que foi privatizada em 2018.
De acordo com a Eletrobras, desde meados deste ano a empresa já vem honrando seus compromissos correntes com a Eletronorte, mas ainda há um passivo do passado a resolver --situação que está sendo discutida junto à agência reguladora Aneel.
Já no segmento de comercialização de energia, a Eletrobras pretende reforçar sua área para fazer frente aos elevados volumes de energia que terá para vender no mercado livre a partir da descotização de suas usinas hidrelétricas.
Ferreira Júnior disse que a companhia não descarta comprar uma comercializadora de energia, mas que prefere avançar na área com a constituição de um time próprio, aproveitando talentos e buscando trazer novos profissionais.
NOVO PLANO ESTRATÉGICO
O novo planejamento estratégico da Eletrobras está sendo discutido com o conselho de administração da empresa e deve ser divulgado em março do próximo ano, durante a divulgação do resultado do último trimestre de 2022.
Entre os princípios que guiarão a empresa nessa nova fase, Ferreira Júnior destacou a visão "green major", isto é, se consolidar como uma líder mundial em energias renováveis e com um dos menores níveis de emissão da indústria.
Na agenda "ESG", a companhia deve se comprometer com zerar suas emissões líquidas de carbono nos escopos 1, 2 e 3, disse o CEO. Um passo importante para isso será o desinvestimento em térmicas, como Candiota 3, seja através da venda do ativo ou de seu descomissionamento após o término do contrato.
Ainda segundo ele, a Eletrobras quer se tornar a elétrica de menor custo de capital no Brasil até o primeiro semestre de 2023. Isso será alcançado com renegociação de dívidas de custo mais elevado e otimização da estrutura de capital da holding e subsidiárias.
Questionado sobre eventuais impactos à Eletrobras em razão da mudança do governo brasileiro em 2023, com retorno do PT ao poder, ele disse ver "risco zero" de qualquer interferência no novo planejamento da companhia.
Em sua opinião, o governo, que ainda detém uma fatia importante do capital da elétrica, terá "total interesse" em uma empresa com melhores resultados. "A agenda que temos na Eletrobras é bastante alinhada com qualquer governo que entrar".
(Por Letícia Fucuchima)